OUTUBRO
Os
mortos estão esperando o frio de Novembro
enquanto
as pétalas dos crisântemos se vão definindo
neste
meio de Outubro, hereditariamente mortiço.
Os
mortos estão esperando! Os cardíacos, os fuzilados,
os
arrogantes, os tuberculosos, os suicidas
estão
esperando as suas flores, o seu pretexto
para
se imporem ao coração dos existentes
e
manejarem a saudade como um látego,
rasgando
a carne dos joelhos que amaram.
É
a hora de nos ditarem a contemplação de pequenos objectos
sepultados
no fundo de gavetas incómodas ...
É
a hora de se transformarem em flechas
e
apresentarem os retratos fidelíssimos
para
serem salgados de lágrimas veementes.
Ridículo
oferecer-lhes passeios sobre o rio,
constelações
em marcha, conferências sobre o sexo,
magazines
ilustrados, coloridos foguetes luminosos.
O
choro é essencial; Novembro não esquece,
reforça
os seus pilares, não tardará a erguer-se.
Com
os relógios quebrados contra o tempo
os
mortos aguardam, embrulhados nas horas que não têm,
enquanto
as pétalas dos crisântemos já se torcem, disformes,
como a dor que
depositaremos sobre os túmulos.
Sem comentários:
Enviar um comentário