ALBANO MARTINS
(Fundão,
Portugal, 1930)
Poeta
ACONTECIMENTO
Tu
choravas e eu ia apagando
com
os meus beijos os rastos das tuas lágrimas
-
riscos na areia mole e quente do teu rosto.
Choravas
como quem se procura.
E
eu descobria mundos, inventava nomes,
enquanto
ia espremendo com as mãos
o meu sangue todo no teu sangue.
Não
sei se o mundo existia e nós existíamos, realmente.
Sei
que tudo escava suspenso
esperando
não sei que grave acontecimento
e
que milhares de insectos paravam e zumbiam nos meus sentidos.
Só
a minha boca era uma abelha inquieta
percorrendo e picando o teu corpo de beijos.
Depois
só dei pela manhã,
a
manhã atrevida,
entrando
devagar, muito devagar e acordando-me.
Desviei
os meus olhos para ti:
ao
longo do teu corpo morriam as estrelas.
A
noite partira. E, lentamente,
o sol rompeu no céu da tua boca.
Sem comentários:
Enviar um comentário