FERNANDO GUIMARÃES
(Porto,
Portugal, 1928)
Poeta,
ensaísta, tradutor, crítico literário
POESIA,
PINTURA E REALIDADE
A linguagem poética ou
artística, que nada representa, aparece, entre todas, como aquela que está mais
próxima do conhecimento do ser, na medida em que ela é, e não significa, o
próprio ser. Tal linguagem é, pois, criação. O poeta, como criador, é de si que
desvela essa realidade, não porque esta seja apenas ele, mas porque ela está
também nele.
Neste momento, podemos
perguntar se a pintura é distinta da poesia por ser não criação mas
contemplação. A atitude do pintor seria contemplativa e, como contemplativa,
distinguir-se-ia da do poeta que, como vimos, é criativa.
Enquanto um exprimia a realidade, o outro representá-la-
ia. Uma das descobertas do artista plástico foi a cor. Mas a cor, ao ser
descoberta, representa, não aquilo para que serve - porque então não seria já
ela -, mas o que ela é em si mesma. Deste modo surge como linguagem, mas como
essa linguagem nada nos representa além dela mesma, porque encontra em si a sua
plenitude, podemos dizer que ela é, também, criação ou poesia. O mundo criado é
a própria realidade.
É aí, nessa realidade, que se encontram o autêntico
religioso, ou seja, o místico, e todo o artista. Mas só este, estrangeiro entre
os outros dessa realidade, pode dela regressar, criando-a.
O religioso - pelo
contrário – ficará inevitavelmente acorrentado à sua essencial ausência de
limites. Por isso ele é, como diria Nietzsche, rico de mais para que possa dar.
in “Árvore” – revista literária
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