LÁGRIMA
DE PRETA
Encontrei
uma preta
que
estava a chorar,
pedi-lhe
uma lágrima
para
a analisar.
Recolhi
a lágrima
com
todo o cuidado
num
tubo de ensaio
bem
esterilizado.
Olhei-a
de um lado,
do
outro e de frente:
tinha
um ar de gota
muito
transparente.
Mandei
vir os ácidos,
as
bases e os sais,
as
drogas usadas
em
casos que tais.
Ensaiei
a frio,
experimentei
ao lume,
de
todas as vezes
deu-me
o que é costume:
nem
sinais de negro,
nem
vestígios de ódio.
Água
(quase tudo)
e
cloreto de sódio.
ANTÓNIO GEDEÃO (Lisboa, Portugal, 1906 – 1997),
professor e poeta.
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