sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Verdes Aparências

 
 
 
 
 

 
 
  Verdes Aparências

 

 
Eram de barro os cântaros

que acolheram os licores da carne.

Era de algodão cru o tecido do lençol

que acobertava

um falso rei e uma rainha falsa.

 

Sob as rosas mornas

onde os cacos se devoravam

e a pressa dos suicidas

apregoava encantamento,

os cântaros vertiam

beijos de proveta

sobre a fenda pretendida.

 

Avolumavam-se outras fomes

e o ritmo da porfia

consagrava-se.

 

E ao som do tilintar dos dentes

nas bordas da taça de cristal,

voavam estilhaços de vinho

e uma nódoa de veneno

sobre a mesa esparramava-se.

 

Era um tempo de carnes secas

e verdes aparências.

 

Maria Luísa Ribeiro (Goiânia, Brasil)

Imagem: pintura de Wilson Braga (Brasil)


 
 
 

 

 

 

 
 

2 comentários:

  1. Muito obrigada por compartilhar, Taveira. Não conhecia. Tens mais indicações da autora?

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  2. Bom dia, Letizia. A autora é advogada e licenciada em Letras. Actualmente é Presidente da Academia Goianiense de Letras. Tem vários livros de poesia e de literatura infantil. Abraço.

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