Que quer dizer a mágoa sempre que se deixa
Que quer dizer a mágoa
sempre que se deixa
fazer sentir, quando se
afasta depois
de ocupar os únicos sítios?
O que quero
dizer fica menos veloz. A
evitar o azul branco
do céu sobre mim, a visitar
esta terra só
de inverno. Seria inútil
começar agora
uma conversa mais
explícita, talvez
sobre o ritmo exigente da
cidade em que estás
ou sobre a actividade quase
perfeita das crianças
em redor. Prefiro calar-me,
sentir o vento
que vem do mar, rir um
pouco tropeçando
na madeira corroída.
De pouco serve escutar
assim as vozes
já tão cansadas, antes a
cuidadosa escolha
das tábuas a pôr na casa
vazia. Depois
falaste-me de um eco, de um
barco inclinando-se,
da casa que não tens.
Esgota-se o que mais falta.
Que vamos
dizer? Está bem amo-te. E
ao fogo
acabando na cinza, à manhã que não existe.
Hélder Moura
Pereira (Setúbal, Portugal, 1949)
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