terça-feira, 25 de novembro de 2014

Quando ouço ao telefone a voz que brinca

 
 
 
 
 
 

Quando ouço ao telefone a voz que brinca


Quando ouço ao telefone a voz que brinca
e canta, sem saber, os dias novos,
pouco me importam tempo, espaço, luas,
ou maneiras sequer de ser humano.
Vagueio pelo ar, e arranco estrelas
ao cenário sem fim do universo;
e faço pobres contas aos cabelos
depenados no chão, verso após verso.
Nada é real, senão o meu desejo,
nem sei de lei nenhuma que não dobre
a dura mansidão da tua boca;
inventou-nos um deus, para que seja
veloz o lume na manhã sem nome,
e chama viva a voz que nos consome. 

 

António Franco Alexandre, in Duende”

Imagem: óleo de Craig Mullins.


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