domingo, 17 de julho de 2016

CONFERÊNCIAS CIENTÍFICAS – Os Submarinos





               CONFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
                (Para os alunos dos liceus)
           

                       Os Submarinos


O tema da minha conferência de hoje é da maior actualidade, meninos e meninas, ainda que mal me pareça dizê-lo, porque louvor em boca própria é vitupério. 

Que é um submarino? 

É tudo, pessoa ou coisa, que anda debaixo do mar. 
À primeira vista, como todos os dias havereis de ter lido que na guerra actual foram introduzidos como elementos novos os submarinos e os aparelhos aéreos, como aeroplanos, zepelins, etc., é possível que por vezes confundais um aeroplano com um submarino; tal confusão, seria lamentável, e imperdoável, visto que daríeis fraquíssima conta de vós próprios – se imaginásseis que uma pescadinha marmota, por exemplo, pode atravessar as nuvens.

Nada, porém, mais fácil do que evitar a confusão: o submarino tem periscópio e aparelho aéreo não tem. 

A isto objectareis, talvez, que os carapaus e outros submarinos análogos não possuem periscópio; não, efectivamente, mas ninguém nos assegura que os antepassados destes animais o não tenham tido. 
Assim como o homem possui rudimentos de órgãos que foram muito desenvolvidos nos seus avós – o lóbulo auricular, por exemplo, não é mais do que o resto da orelha do burro – é também possível que os peixes possuam periscópios rudimentares.

Os submarinos agrupam-se em duas grandes divisões: os submarinos de paz e os submarinos de guerra. 

Os primeiros compreendem os peixes, os mariscos, o cabo submarino, etc.; os segundos são uns objectos de aço, com gente e torpedos dentro e às vezes fora. Estes são ofensivos e aqueles não, podendo até afirmar-se que muitas das suas espécies são comestíveis, enquanto que dos submarinos de guerra não há exemplo de que algum tenha sido mastigado.

Aconselho-vos, contudo, meninos e meninas, que quando vos apetecer em qualquer restaurante um submarino, expliqueis bem ao moço a espécie, para que não aconteça que ele vos sirva algum tipo do Deutschland, que apesar de ser de paz é de dificílima digestão. 

Tenho dito.
                                                                                          

Bonaparte

(aluno do liceu Camões)




in “Século Cómico” - 1916, suplemento humorístico do jornal “O Século”.


Sem comentários:

Enviar um comentário

MALMEQUER

MALMEQUER Português, ó malmequer Em que terra foste semeado? Português, ó malmequer Cada vez andas mais desfolhado Ma...