Guilherme
de Faria (Guimarães, Portugal,
1907 – Lisboa, 1929).
Publicou
o seu primeiro livro, Poemas, em
1922, com quinze anos apenas. Morreu aos vinte e dois.
E tanto o seu primeiro
livro como os que se seguiram, Mais
Poemas, Sombra, Saudade Minha, Destino, Manhã de Nevoeiro e Desencanto, além do publicado postumamente, Saudade
Minha – Poesias Escolhidas, dir-se-à
que todos eles reflectem o prenúncio da morte próxima, tal a predisposição
melancólica, a contemplação, o ensimesmamento em que mergulhou.
in
“Dicionário de Literatura”
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Não
vale a pena
Viver
sentindo n’alma o fogo ardente
Da
mais alta ambição, que nos condena
A
lutar, a sonhar eternamente,
— Não vale a pena…
Viver
na febre intensa dos desejos
E
sonhos da luxúria que envenena
As
almas, ao calor de falsos beijos,
— Não vale a pena…
Viver
cantando, d’alma leda e pura,
Versos
ao som de pastoril avena,
Longe
da vida tão hostil e escura,
— Não vale a pena…
Viver
para o meu Amor — Vida e Doçura! —
Doce
mulher cheia de graça, plena
Do
mais divino amor e formosura,
— Não vale a pena…
Não
vale a pena… É vão todo o desejo.
—
E para quê sonhar, nesta amargura,
Acesa
a luz da esperança, que eu não vejo,
E
ter sonhos, quimeras a sorrir,
—
Se, para além da humana desventura,
Tenho
o leito da eterna sepultura,
Para fechar os olhos e
dormir?…
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