Ludovico Ariosto (Reggio Emilia, Itália, 1474
– Ferrara, Itália, 1953).
O primeiro grande escritor
não toscano e a expressão máxima do Renascimento italiano.
Estudou direito, e depois,
até 1499, mergulhou no estudo das línguas e literaturas clássicas, sob a
orientação de Gregório Elladio. (…)
A sua obra-prima, o Orlando Furioso, vasto poema de
cavalaria iniciado em 1502-1503, foi primeiramente publicado em Veneza, com 40
cantos, em 1516, retocado no enredo e refundido na linguagem na edição de 1521;
e ainda revisto na matéria e levado para o primor linguístico que ainda hoje
possui na edição definitiva de 1532, aumentada para 46 cantos. (…)
Para além daquilo que a
filologia positiva tem averiguado acerca das «fontes», a verdade é que matéria
efectiva do poema são os próprios sentimentos, sonhos e aspirações do poeta: o amor à mulher (em que recai o acento principal da obra), ternura e
sensibilidade a todos os valores positivos da humanidade, um sorriso indulgente
e compreensivo (visto serem todos os homens um pouco doidos), por vezes irónico
e nunca corrosivo, que tudo envolve sem distinção.
A transfiguração fantástica
da realidade conjuga-se, intimamente, com a caracterização «natural» do
elemento maravilhoso, numa concreta unidade arquitectónica, musicalmente
dominada pela monumental oitava ariostesca. É o monumento imperecível no qual
se interpreta a si próprio um homem que procurou transcender pela poesia a
realidade da sua época.
in "Enciclopédia de Cultura"
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Palavras
de Ludovico Ariosto:
“Se,
como o rosto, se mostrasse o coração.”
Soneto XXV
Que bela sois, senhora! Tanto, tanto,
que por mim nunca vi cousa mais bela!
Contemplo a fronte e penso que uma estrela
a meu caminho dá seu brilho santo.
Contemplo a boca e pairo no encanto
do sorriso tão doce que é só dela;
olho o cabelo de ouro e vejo aquela
rede que amor me impôs com terno canto.
É de terso alabastro o colo, o peito,
os braços mais as mãos, e finalmente
quanto de vós se vê ou se adivinha.
E embora seja tudo assim perfeito,
permiti que vos diga ousadamente:
mais perfeita era a fé que
em vós eu tinha.
Tradução: David
Mourão-Ferreira
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