terça-feira, 5 de julho de 2016

LUDOVICO ARIOSTO - Soneto XXV





Ludovico Ariosto (Reggio Emilia, Itália, 1474 – Ferrara, Itália, 1953).

O primeiro grande escritor não toscano e a expressão máxima do Renascimento italiano.

Estudou direito, e depois, até 1499, mergulhou no estudo das línguas e literaturas clássicas, sob a orientação de Gregório Elladio. (…)
A sua obra-prima, o Orlando Furioso, vasto poema de cavalaria iniciado em 1502-1503, foi primeiramente publicado em Veneza, com 40 cantos, em 1516, retocado no enredo e refundido na linguagem na edição de 1521; e ainda revisto na matéria e levado para o primor linguístico que ainda hoje possui na edição definitiva de 1532, aumentada para 46 cantos. (…)

Para além daquilo que a filologia positiva tem averiguado acerca das «fontes», a verdade é que matéria efectiva do poema são os próprios sentimentos, sonhos e aspirações do poeta: o amor à mulher (em que recai o acento principal da obra), ternura e sensibilidade a todos os valores positivos da humanidade, um sorriso indulgente e compreensivo (visto serem todos os homens um pouco doidos), por vezes irónico e nunca corrosivo, que tudo envolve sem distinção.

A transfiguração fantástica da realidade conjuga-se, intimamente, com a caracterização «natural» do elemento maravilhoso, numa concreta unidade arquitectónica, musicalmente dominada pela monumental oitava ariostesca. É o monumento imperecível no qual se interpreta a si próprio um homem que procurou transcender pela poesia a realidade da sua época.



in "Enciclopédia de Cultura"



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Palavras de Ludovico Ariosto:
“Se, como o rosto, se mostrasse o coração.”


              
            Soneto XXV


Que bela sois, senhora! Tanto, tanto,
que por mim nunca vi cousa mais bela!
Contemplo a fronte e penso que uma estrela
a meu caminho dá seu brilho santo.

Contemplo a boca e pairo no encanto
do sorriso tão doce que é só dela;
olho o cabelo de ouro e vejo aquela
rede que amor me impôs com terno canto.

É de terso alabastro o colo, o peito,
os braços mais as mãos, e finalmente
quanto de vós se vê ou se adivinha.

E embora seja tudo assim perfeito,
permiti que vos diga ousadamente:
mais perfeita era a fé que em vós eu tinha.



Tradução: David Mourão-Ferreira





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