Jesús
Lizano (Barcelona, Espanha,
1931 -2015).
Foi licenciado em
Filosofia.
Defendeu o que denominava o Misticismo Libertário, a evolução desde
o Mundo Real Selvagem para o Mundo Real Poético.
Publicou mais de vinte
livros de poesia e foi um destacado pensador anarquista.
Colaborou na revista libertária
“Polémica”, editada em Barcelona.
in “Escritores”
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Palavras
de Jesús Lizano:
“Sou
anarquista poético: o meu mundo não é deste reino.”
Ode
às mulheres que querem ser soldados
Aos
quartéis!
Enchei
de filhos os quartéis!
Que
se misturem os filhos nos desfiles!
Que
brinquem com as armas e as munições!
Que
as desmontem e confundam!
Que
interrompam
as
arengas dos coronéis!
Sim,
sim, vós!
Passai
as noites nas guaritas da guarda!
Levai à cantina os alferes!
Multiplicai
os altifalantes!
À
carreira de tiro! Descei à carreira de tiro com a merenda
e
estendei as toalhas! Toalhas!
Toalhas!
E
tapai de queijo os fuzis
ensaiando
mil toques novos de corneta.
Que
se ponham loucos todos os capitães!
Que
dancem até se desconjuntarem os corneteiros!
Estendei
as roupas na Sala de Comando!
Desfilai!
Desfilai
mostrando
os vossos encantos!
Isso!
Isso! Soldados!
E
logo, aos templos! Há muitos templos!
Enchei
de criaturas os templos!
Que
brinquem às escondidas pelos armários, pelos sítios recônditos!
Que
se disfarcem com as fardas e os lençóis!
Incenso!
Muito incenso!
Ide
às procissões com os vossos pratos e caçarolas
e
que se espalhe pelos armazéns
o
cheiro a ovos fritos e a borrego!
A
mãe do borrego!
Ala!
Ala!
Cumpri
a longa marcha até aos bancos!
Confundi
todos os códigos!
Acelerai
os ventiladores!
Que
voem todos os arquivos e se perdam todos os créditos!
Casai-vos
com os banqueiros!
Com
os presidentes de câmara! Com os acionistas!
Enchei
com o vosso perfume e o vosso encanto os ministérios!
Levai
as meias ao hemiciclo!
Nem
luz nem estenógrafas!
Luz?
Estenógrafas?
Sim, seres maravilhosos que quereis ser soldados!
Às
escolas! Às escolas!
Ponde
as patas em cima das geografias e das histórias!
As
regras!
Seduzi
os catedráticos!
À
Aula Magna! À Aula Magna!
E passeai
nuas e revestidas com as suas togas!
Pari
nos Conselhos de Ministros!
E
nas loggias! E nas Academias!
Recebei
as vossas amigas nas Academias!
Nas
Reais Academias!
Salvai
da ordem o mundo!
Começará
um tempo novo
e
voltaremos à selva!
E
assim terminará este ciclo tão antigo
quando
Eva, desta vez, devolva ao género humano o
Paraíso!
in “O Engenhoso Libertario”
Tradução: Carlos d’Abreu