Álvaro Feijó (Viana do Castelo, Portugal, 1916 – Coimbra, Portugal, 1941).
Pertenceu à geração do Novo Cancioneiro que, ao acolher o seu espólio, dando a público a sua produção literária, num livro intitulado, Os Poemas de Álvaro Feijó (1961), revelou para as letras um poeta de combatividade linear e límpida que começava a despertar com invulgar resplendor.
Era sobrinho-neto do poeta António Feijó, que imitou, inicialmente, no seu parnasianismo. Mas que mais tarde abandonou às inquietações do Neo-Realismo, debruçando-se sobre os contrastes chocantes duma sociedade formada por classes muito pobres e classes muito ricas.
in, “Dicionário Literatura Portuguesa”
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OS DOIS SONETOS DE AMOR DA HORA TRISTE
I
Quando eu morrer — e hei-de morrer primeiro
Do que tu — não deixes de fechar-me os olhos
Meu Amor. Continua a espelhar-te nos meus olhos
E ver-te-ás de corpo inteiro.
Como quando sorrias no meu colo.
E, ao veres que tenho toda a tua imagem
Dentro de mim, se, então, tiveres coragem,
Fecha-me os olhos com um beijo.
(Eu, Marco Póli)
Farei a nebulosa travessia
E o rastro da minha barca
Segui-los-á em pensamento. Abarca
Nele o mar inteiro, o porto, a ria...
E, se me vires chegar ao cais dos céus,
Ver-me-ás, debruçado sobre as ondas, para dizer-te adeus,
II
Não um adeus distante
Ou um adeus de quem não torna cá,
Nem espera tornar. Um adeus de até já,
Como a alguém que se espera a cada instante.
Que eu voltarei. Eu sei que hei de voltar
De novo para ti, no mesmo barco
Sem remos e sem velas, pelo charco
Azul do céu, cansado de lá estar.
E viverei em ti como um eflúvio, uma recordação.
E não quero que chores para fora,
Amor, que tu bem sabes que quem chora
Assim, mente. E, se quiseres partir e o coração
To peça, diz-mo. A travessia é longa... Não atino
Talvez na rota. Que nos importa, aos dois, ir sem destino?
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