Garcia
de Orta (Castelo de Vide, Portugal,
1501 – Goa, Índia, 1568).
Os seus pais, Fernando
Isaac de Orta e Leonor Gomes, eram judeus, tendo sido expulsos de Espanha em
1492 pelos Reis Católicos.
Estudou em Espanha,
nomeadamente em Salamanca e Alcaná de Henares. Tirou o Bacharelato em Artes e
licenciou-se em Medicina e Filosofia Natural. Foi durante o seu percurso
universitário que surgiu o interesse pelo estudo de plantas medicinais.
Por volta de 1523,
regressa a Portugal para exercer medicina na cidade onde nasceu tornando-se,
mais tarde, médico de D. João III, em Lisboa. Aí conhece o ilustre matemático
(e também cristão novo) Pedro Nunes.
Concorre três vezes ao
lugar de professor na Universidade de Lisboa, sendo-lhe atribuído o cargo de
Professor de Filosofia Natural, em 1530. Respeitado pelos alunos e com uma
grande paixão pelo conhecimento, Garcia da Orta salienta a importância da
observação e dos sentidos para a realização de novas descobertas.
Apesar de ter sido eleito
deputado do Conselho Universitário, a 12 de Março de 1534, procurando e não
encontrando um lugar onde houvesse espaço para a experimentação, de forma a
poder satisfazer a sua mente curiosa, decide então partir para a Índia.
Embarcou como médico pessoal de Martim Afonso de Sousa, um amigo que fora
nomeado vice-rei da Índia.
Em Goa, familiariza-se com a literatura médica da
Índia e com a grande variedade de plantas, animais e resinas utilizadas para
tratar doentes.
É, também, nesta cidade que estabelece amizade com o ainda
desconhecido Luís de Camões, que lhe dedicou alguns poemas.
Posteriormente,
como recompensa dos seus serviços, o vice-rei entrega-lhe o foro de Bombaim.
Mandou, então, construir um jardim botânico.
Em Abril de 1563, publica
a sua notável obra Colóquios dos Simples
e Drogas e Cousas Medicinais da Índia incidindo esta no estudo de espécies
de plantas da Índia e as suas aplicações na Medicina.
Nesta obra, constituída
por 58 Colóquios, Garcia de Orta estabelece um diálogo com Ruano, amigo
imaginário ao qual expõe as suas investigações. Para além do seu enorme valor
científico, o livro conta, ainda, com a primeira poesia impressa de Luís de
Camões.
É de salientar que foi o primeiro registo científico de plantas do
Oriente feito por um europeu. Foi traduzido para várias línguas, sendo a versão
mais conhecida um resumo em latim da autoria de Charles L’Eccluse.
Em 1568, em Goa, morre de
sífilis e embora nunca tenha tido directamente problemas com a Inquisição, a 4
de Dezembro de 1580 os seus ossos foram desenterrados e queimados em auto de fé
juntamente com exemplares do seu livro.
Actualmente podemos encontrar um
hospital em Almada com o seu nome e também uma Escola Secundária no Porto.
in “Dicionário de Médicos Portugueses”
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Excerto do poema Aquele único exemplo, Ode VIII, de Luís
de Camões ao Conde de Redondo, Vice-Rei da Índia. Este foi o primeiro poema impresso
de Camões.Está incluído no livro de Garcia de Orta, Colóquios dos Simples e Drogas e Cousas Medicinais da India.
Aquele
único exemplo
Aquele
único exemplo
de
fortaleza heróica e de ousadia,
que
mereceu, no templo
da
eternidade, ter perpétuo dia
o
grão filho de Thétis, que dez anos
flagelo foi dos míseros Troianos;
não
menos ensinado
foi
nas ervas e médica notícia
que
destro e costumado
no
soberbo exercício da milícia:
assi
qu’as mãos que a tantos morte deram,
também a muitos vida dar puderam.
(...)
O
fruto daquella Orta onde florecem
Prantas
novas, que os doutos não conhecem.
Olhai
que em vossos annos
Produze
huma Orta insigne varias ervas
Nos
campos lusitanos,
As
quaes, aquellas doutas protervas
Medea
e Circe nunca conheceram,
Posto que as leis da Magica excederam
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