UMA ESCRITA PARA A MÚSICA
No século VII, Santo
Isidoro de Sevilha escreveu Música, filha
da memória. E com bons motivos: até 1025, o conhecimento musical
transmitia-se de um modo exclusivamente oral. Neste ano, um monge chamado Guido
instalou-se na localidade italiana de Arezzo, com a ideia de pôr em prática um
novo método de ensino musical.
Educado na Abadia beneditina de Pomposa e farto
das intermináveis salas de aula de Música nas quais ele e os seus companheiros
eram submetidos por um professor às contínuas repetições dos cantos litúrgicos,
Guido d´Arezzo projectou um sistema de notação musical que havia de tornar possível
a interpretação fiel de qualquer composição sem recorrer à memorização.
O seu
sistema é extremamente simples: as notas escrevem-se como pontos sobre quatro
linhas (tetragrama) e cada nota tem um nome. Esse nome deriva da primeira
sílaba de cada verso do hino a São João Crisóstomo, a que se acrescentam as
iniciais do nome do santo:
Ut queant
laxis
resonare fibris
mira gestorum
famuli tuorum
solve
polluti
labii reatum
Sancte Ioannes».
Com o tempo, ut seria substituída por
dó (primeira sílaba de Dominus), muito mais adequada para o
canto.
No começo do tetragrama (de quatro linhas; mais tarde, pentagrama, de
cinco) seria colocada uma letra maiúscula para assinalar a altura em que se
leriam as notas. Estas letras seriam C (dó), F (fá) e G (sol).
O sistema de
Guido, tão simples como eficaz, teve um êxito imediato.
in “Auditorium” – Crónica da Música
Imagem: pintura de Paulo Martorelli, artista plástico,
natural do Recife, Brasil.
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