quinta-feira, 11 de agosto de 2016

UMA ESCRITA PARA A MÚSICA





UMA ESCRITA PARA A MÚSICA


No século VII, Santo Isidoro de Sevilha escreveu Música, filha da memória. E com bons motivos: até 1025, o conhecimento musical transmitia-se de um modo exclusivamente oral. Neste ano, um monge chamado Guido instalou-se na localidade italiana de Arezzo, com a ideia de pôr em prática um novo método de ensino musical. 

Educado na Abadia beneditina de Pomposa e farto das intermináveis salas de aula de Música nas quais ele e os seus companheiros eram submetidos por um professor às contínuas repetições dos cantos litúrgicos, Guido d´Arezzo projectou um sistema de notação musical que havia de tornar possível a interpretação fiel de qualquer composição sem recorrer à memorização. 

O seu sistema é extremamente simples: as notas escrevem-se como pontos sobre quatro linhas (tetragrama) e cada nota tem um nome. Esse nome deriva da primeira sílaba de cada verso do hino a São João Crisóstomo, a que se acrescentam as iniciais do nome do santo: 

Ut queant laxis
resonare fibris
mira gestorum
famuli tuorum
solve polluti
labii reatum
Sancte Ioannes». 

Com o tempo, ut seria substituída por (primeira sílaba de Dominus), muito mais adequada para o canto.

No começo do tetragrama (de quatro linhas; mais tarde, pentagrama, de cinco) seria colocada uma letra maiúscula para assinalar a altura em que se leriam as notas. Estas letras seriam C (), F () e G (sol). 

O sistema de Guido, tão simples como eficaz, teve um êxito imediato.



in “Auditorium” – Crónica da Música
Imagem: pintura de Paulo Martorelli, artista plástico, natural do Recife, Brasil.


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