sábado, 13 de agosto de 2016

ALMEIDA GARRETT – Os cinco sentidos


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Os Cinco Sentidos


VER

São belas - bem o sei, essas estrelas;
Mil cores - divinais têm essas flores;
Mas eu não tenho, amor, olhos para elas:
      Em toda a natureza
      Não vejo outra beleza
      Senão a ti…  a ti!


OUVIR

Divina – ai, sim será a voz que afina
Saudosa - na ramagem densa, umbrosa,
Será; mas eu do rouxinol que trina
      Não oiço a melodia,
      Nem sinto outra harmonia
      Senão a ti… a ti!


CHEIRAR

Respira - n'aura que entre as flores gira
Celeste - incenso de perfume agreste:
Sei... não sinto: minha alma não aspira,
      Não percebe, não toma
      Senão o doce aroma
      Que vem de ti.. de ti!


GOSTAR

Formosos - são os pomos saborosos
É um mimo - de néctar o racimo;
E eu tenho fome e sede... sequiosos,
      Famintos meus desejos
      Estão... mas é de beijos,
      É só de ti… de ti!


PALPAR

Macia - deve a relva luzidia
Do leito - ser por certo em que me deito.
Mas quem ao pé de ti, quem poderia
      Sentir outras carícias,
      Tocar noutras delícias
      Senão a ti… em ti!




Almeida Garrett (Porto, Portugal, 1799 – Lisboa, 1854), in “Folhas Caídas”.


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