terça-feira, 30 de agosto de 2016

JESÚS LIZANO - Ode às mulheres que querem ser soldados





Jesús Lizano (Barcelona, Espanha, 1931 -2015).

Foi licenciado em Filosofia. 
Defendeu o que denominava o Misticismo Libertário, a evolução desde o Mundo Real Selvagem para o Mundo Real Poético.

Publicou mais de vinte livros de poesia e foi um destacado pensador anarquista. 
Colaborou na revista libertária “Polémica”, editada em Barcelona.


in “Escritores”


***************



Palavras de Jesús Lizano:
“Sou anarquista poético: o meu mundo não é deste reino.”




Ode às mulheres que querem ser soldados


Aos quartéis!
Enchei de filhos os quartéis!
Que se misturem os filhos nos desfiles!
Que brinquem com as armas e as munições!
Que as desmontem e confundam!
Que interrompam
as arengas dos coronéis!
Sim, sim, vós!
Passai as noites nas guaritas da guarda!
Levai à cantina os alferes!
Multiplicai os altifalantes!
À carreira de tiro! Descei à carreira de tiro com a merenda
e estendei as toalhas! Toalhas!
Toalhas!
E tapai de queijo os fuzis
ensaiando mil toques novos de corneta.
Que se ponham loucos todos os capitães!
Que dancem até se desconjuntarem os corneteiros!
Estendei as roupas na Sala de Comando!
Desfilai! Desfilai
mostrando os vossos encantos!
Isso! Isso! Soldados!
E logo, aos templos! Há muitos templos!
Enchei de criaturas os templos!
Que brinquem às escondidas pelos armários, pelos sítios recônditos!
Que se disfarcem com as fardas e os lençóis!
Incenso! Muito incenso!
Ide às procissões com os vossos pratos e caçarolas
e que se espalhe pelos armazéns
o cheiro a ovos fritos e a borrego!
A mãe do borrego!
Ala! Ala!
Cumpri a longa marcha até aos bancos!
Confundi todos os códigos!
Acelerai os ventiladores!
Que voem todos os arquivos e se perdam todos os créditos!
Casai-vos com os banqueiros!
Com os presidentes de câmara! Com os acionistas!
Enchei com o vosso perfume e o vosso encanto os ministérios!
Levai as meias ao hemiciclo!
Nem luz nem estenógrafas!
Luz? Estenógrafas?
Sim, seres maravilhosos que quereis ser soldados!
Às escolas! Às escolas!
Ponde as patas em cima das geografias e das histórias!
As regras!
Seduzi os catedráticos!
À Aula Magna! À Aula Magna!
E passeai nuas e revestidas com as suas togas!
Pari nos Conselhos de Ministros!
E nas loggias! E nas Academias!
Recebei as vossas amigas nas Academias!
Nas Reais Academias!
Salvai da ordem o mundo!
Começará um tempo novo
e voltaremos à selva!
E assim terminará este ciclo tão antigo
quando Eva, desta vez, devolva ao género humano o
Paraíso!



in “O Engenhoso Libertario”

Tradução: Carlos d’Abreu

Sem comentários:

Enviar um comentário

MALMEQUER

MALMEQUER Português, ó malmequer Em que terra foste semeado? Português, ó malmequer Cada vez andas mais desfolhado Ma...