AMÁLIA RODRIGUES
(Lisboa, Portugal, Julho de 1920 – Outubro
de 1999)
OLYMPIA
DE PARIS
Era impressionante como as
pessoas reconheciam Amália nas ruas de Paris. Um dia, andei com ela às compras,
e Amália, como era muito desprendida, depois de comprar muita coisa,
esqueceu-se da mala numa loja. Quando se deu por isso, já estávamos longe.
Voltámos para trás, apressadamente, e eis que apareceu um senhor francês, muito
distinto, com a mala na mão. "Muito obrigada", disse-lhe Amália.
"Eu é que agradeço, Madame, por cantar tão bem."
Uma vez, havia um grande
grupo de italianos ao pé de mim, eu disse-lhe e Amália cantou uma cantiga
italiana para ser amável com eles. Outra vez, era uma rapariga na plateia que
morria se não ouvisse uma ranchera, e a Amália cantou o "Fallaste
Corazon", que foi de chorar de tanto sofrimento. Na matinée de domingo, a que assistia um membro da realeza teatral, a
maravilhosa Edwige Feuillère, o espectáculo começou um bocadinho mais tarde. É
que a Pina Bausch e a sua companhia, que actuavam num teatro um pouco afastado,
não queriam, nem por nada, perder uma cantiga que fosse.
Passava-se tudo um pouco
familiarmente onde quer que Amália cantasse. Era uma grande vedeta, uma das
maiores cantoras mundiais, mas o público tinha sempre com ela uma relação mais
do que de admiração, era uma espécie de relação de amizade. Nunca me posso esquecer
de ter visto, em Roma, no enorme Teatro Sistina a abarrotar de gente, pessoas a
correr, a rodear o palco, a pedir-lhe que cantasse mais, a tentar tocar no
vestido, a oferecer-lhe braçadas de flores.
Vítor Pavão dos Santos
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