AMÁLIA RODRIGUES
(Lisboa, Portugal, Julho de 1920 – Outubro
de 1999)
A
RESSURREIÇÃO
As luzes apagam-se. Sob o
luar, num teatro em ruínas, em Cartago, Amália caminha lentamente recortada por
focos brancos.
Faz-se silêncio. O mesmo
silêncio que cairá após o seu canto se extinguir, antes de os aplausos
explodirem em ressonâncias cósmicas.
Os dedos naufragam-se-lhe
na écharpe sobre o longuíssimo
vestido negro. Levanta a cabeça, a voz eleva-se, eleve-a, vai aos abismos do
indizível, assombrando os milhares que esgotam a terra onde ela pára a noite e
a aflição.
O milagre rebenta depois,
lágrimas num choro de deuses por haver.
Fernando Dacosta, in “Amália – Ressurreição”
Imagem: pintura de Meire Gomes
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