quarta-feira, 19 de julho de 2017

AMÁLIA – A Ressurreição

 
 
 
AMÁLIA RODRIGUES
(Lisboa, Portugal, Julho de 1920 – Outubro de 1999)

 
A RESSURREIÇÃO

 
As luzes apagam-se. Sob o luar, num teatro em ruínas, em Cartago, Amália caminha lentamente recortada por focos brancos.
Faz-se silêncio. O mesmo silêncio que cairá após o seu canto se extinguir, antes de os aplausos explodirem em ressonâncias cósmicas.
Os dedos naufragam-se-lhe na écharpe sobre o longuíssimo vestido negro. Levanta a cabeça, a voz eleva-se, eleve-a, vai aos abismos do indizível, assombrando os milhares que esgotam a terra onde ela pára a noite e a aflição.
O milagre rebenta depois, lágrimas num choro de deuses por haver.


Fernando Dacosta, in “Amália – Ressurreição”
Imagem: pintura de Meire Gomes

 

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