sábado, 22 de julho de 2017

AMÁLIA – A aventura soviética

 
 
 
 AMÁLIA RODRIGUES
(Lisboa, Portugal, Julho de 1920 – Outubro de 1999)

A AVENTURA SOVIÉTICA

A permanente vigilância do KGB durante a sua digressão à União Soviética levou-a a comentar: «Tinha sempre à porta da suíte do hotel dois homens. Ou desconfiavam de mim, ou tinham medo de mim.» Foi a terceira vedeta mundial (depois de Maria Callas e Marlène Dietrich) que o Politburo autorizou a actuar na então URSS.

A sua popularidade havia chegado à Cortina de Ferro por intermédio da Roménia, onde, em 1968, tivera um sucesso estrondoso. A televisão estatal do país transmitira o seu concerto na cidade de Brasov, projectado para todos os estados da União. Para a deslocação foi conveniente escamotear a sua nacionalidade.

A sua estada, e a dos seus acompanhantes, revestiu-se de medidas de segurança semelhantes às prestadas aos chefes de Estado. Os homens da KGB, sempre solícitos, acompanhavam-na aonde quer que fosse, dos quartos aos bares dos hotéis, dos restaurantes aos teatros, nas idas aos ensaios, às festas, aos voos de ligação, com Amália metida no meio de polícias, sem poder contactar com as centenas de pessoas que pretendiam autógrafos, ou simplesmente vê-la de perto. Ela adorou a digressão. A tournée esgotou sete vezes um teatro de 2000 lugares, em Leninegrado.
 
Recentemente descobriu-se que a gravação (única) dum concerto seu em Moscovo estava intacta nos arquivos do ex-KGB. O documento, a cores, representa algo de muito precioso, pelo que várias entidades, caso do Valentim de Carvalho, têm tentado adquiri-lo.
 
Amália comentou: «Viajei pelo mundo, cantei em quase todos os países, a minha vida tem sido assim, e cheguei à conclusão de que é tudo igual, só mudam os cenários, as comidas, as línguas, no resto, nas roupas, nos gostos, nos sentimentos, nos medos, nas traições, é tudo idêntico.»
 
 
Fernando Dacosta, in “Amália – A Ressurreição”



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