quinta-feira, 5 de abril de 2018

PEDRO TAMEN - Amar-te é Vir de Longe



PEDRO TAMEN
(Lisboa, Portugal, 1934)
Poeta, tradutor

***
A sua poesia, reunida em Tábua das Matérias (1956-1991), foi galardoada com o prémio da Crítica e com o Grande Prémio Inapa de Poesia.
Está representado nas antologias de poesia portuguesa contemporânea. A sua obra está traduzida e publicada em várias línguas.
Obteve o Grande Prémio de Tradução em 1990.


in “Instituto Camões”

***

Amar-te é Vir de Longe

Amar-te é vir de longe,
descer o rio verde atrás de ti,
abrir os braços longos desde os sete
anos sob a latada ao pé do largo,
guardar o cheiro a figos vistos lá,
a olho nu, ao pé, ao pé de ti,
parar a beber água numa fonte,
um acaso perdido no caminho
onde os vimes me roçam a memória
e te anunciam mãos e te perfazem;
como se o sino à hora de tocar
já fosse o tempo todo badalado,
e a tua boca se abrisse atrás do tojo,
e abaixo dos calções as pernas nuas
se rasgassem só para o pequeno sangue,
tal o pequeno preço que me pedes.
Atrás da curva estavas, és, serias,
nos muros de granito, nas amoras.
Amar-te era lembrança e profecias,
uma porta já feita para abrir,
e encontrar o lar ou música lavada
onde, se nasces, vives, duras, moras
— meu nome exacto e pão
 no chão das alegrias.

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