LUÍS DE MONTALVOR
(S.
Vicente, Cabo Verde, 1891, Lisboa, Portugal, 1947)
Poeta, editor
***
Muito
novo veio para Lisboa, onde estudou.
No
Brasil foi secretário de Bernardino Machado, ao tempo ministro plenipotenciário
de Portugal.
Tendo
regressado a Lisboa, com Ronald de Carvalho fundou a revista Orpheu. Lançou ainda a revista Centauro e a Editorial Ática, revelando-se
um inovador nas artes gráficas.
Tendo-se
estreado com Noite de Satã, publicou ainda
A Caminho e Poemas.
in “Século XXI”
***
Entardecer
Sol-posto ungindo o mar: incensos de ouro!
Recolhe funda a tarde em sonho e mágoa.
Surdina fluida: anda o silêncio a orar –
E há crepúsculos de asas e, na água,
O céu é mármore extático a cismar!
Recolhe funda a tarde em sonho e mágoa.
Surdina fluida: anda o silêncio a orar –
E há crepúsculos de asas e, na água,
O céu é mármore extático a cismar!
E nas faces marmóreas dos rochedos
Esboçam-se perfis,
- Cintilações,
Penumbra de segredos!
Esboçam-se perfis,
- Cintilações,
Penumbra de segredos!
Ó painéis de nuvens sobre a terra,
Ogivas delirantes
Na água refractando…
Encheis de sombra o mar de espumas rasas,
Iniciando
A hora pânica das asas!
E, à meia-luz da tarde,
Na areia requeimada,
São vultos sonolentos
As proas dos navios…
Ó tristeza dos balões
Iluminando,
Na água prateada,
Os pegos e baixios…
Dormentes constelações
Que, em fundos lacustres
E musgosos,
Pondes reverberações
Em nossos olhos ansiosos.
Ó tardes de aquático esplendor,
Descendo em meu olhar!
Num sonho de regresso,
Numa ânsia de voltar,
Em mim todo me esqueço
E fico-me a cismar.
A tarde é toda um sonho moribundo.
É já olor da cor que amorteceu.
O céu vive no mar: sono profundo.
A asa do rumor no ar adormeceu!
Ogivas delirantes
Na água refractando…
Encheis de sombra o mar de espumas rasas,
Iniciando
A hora pânica das asas!
E, à meia-luz da tarde,
Na areia requeimada,
São vultos sonolentos
As proas dos navios…
Ó tristeza dos balões
Iluminando,
Na água prateada,
Os pegos e baixios…
Dormentes constelações
Que, em fundos lacustres
E musgosos,
Pondes reverberações
Em nossos olhos ansiosos.
Ó tardes de aquático esplendor,
Descendo em meu olhar!
Num sonho de regresso,
Numa ânsia de voltar,
Em mim todo me esqueço
E fico-me a cismar.
A tarde é toda um sonho moribundo.
É já olor da cor que amorteceu.
O céu vive no mar: sono profundo.
A asa do rumor no ar adormeceu!
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