Arthur Schopenhauer (Gdansk, Polónia, 1788 – Frankfurt, Alemanha, 1860).
Foi o primeiro filósofo
alemão a incorporar o pensamento oriental nas suas obras.
Palavras de Arthur Schopenhauer:
“A compaixão pelos animais está intimamente ligada
à bondade de carácter, e pode ser seguramente afirmado que quem é cruel com os
animais não pode ser um bom homem.”
Quem não Ama a Solidão, não Ama a Liberdade
Nenhum caminho
é mais errado para a felicidade do que a vida no grande mundo, às fartas e em
festanças (high life), pois, quando tentamos transformar a nossa miserável
existência numa sucessão de alegrias, gozos e prazeres, não conseguimos evitar
a desilusão; muito menos o seu acompanhamento obrigatório, que são as mentiras
recíprocas.
Assim como o
nosso corpo está envolto em vestes, o nosso espírito está revestido de
mentiras. Os nossos dizeres, as nossas acções, todo o nosso ser é mentiroso, e
só por meio desse invólucro pode-se, por vezes, adivinhar a nossa verdadeira
mentalidade, assim como pelas vestes se adivinha a figura do corpo.
Antes de mais
nada, toda a sociedade exige necessariamente uma acomodação mútua e uma
temperatura; por conseguinte, quanto mais numerosa, tanto mais enfadonha será.
Cada um só pode ser ele mesmo, inteiramente, apenas pelo tempo em que estiver
sozinho. Quem, portanto, não ama a solidão, também não ama a liberdade: apenas
quando se está só é que se está livre.
A coerção é a companheira inseparável de toda
a sociedade, que ainda exige sacrifícios tão mais difíceis quanto mais
significativa for a própria individualidade. Dessa forma, cada um fugirá,
suportará ou amará a solidão na proporção exacta do valor da sua personalidade.
Pois, na solidão, o indivíduo mesquinho sente toda a sua mesquinhez, o grande
espírito, toda a sua grandeza; numa palavra: cada um sente o que é.
Ademais, quanto
mais elevada for a posição de uma pessoa na escala hierárquica da natureza,
tanto mais solitária será, essencial e inevitavelmente. Assim, é um benefício
para ela se à solidão física corresponder a intelectual. Caso contrário, a
vizinhança frequente de seres heterogéneos causa um efeito incómodo e até mesmo
adverso sobre ela, ao roubar-lhe seu «eu» sem nada lhe oferecer em troca.
Além
disso, enquanto a natureza estabeleceu entre os homens a mais ampla diversidade
nos domínios moral e intelectual, a sociedade, não tomando conhecimento disso,
iguala todos os seres ou, antes, coloca no lugar da diversidade as diferenças e
degraus artificiais de classe e posição, com frequência diametralmente opostos
à escala hierárquica da natureza.
Nesse arranjo,
aqueles que a natureza situou em baixo encontram-se em óptima situação; os
poucos, entretanto, que ela colocou em cima, saem em desvantagem. Como
consequência, estes costumam esquivar-se da sociedade, na qual, ao tornar-se
numerosa, a vulgaridade domina.
Arthur Schopenhauer, in “Aforismos para a Sabedoria de Vida”
Imagem: pintura de Jackson Pollock (EUA, 1912 – 1956).