Florbela
Espanca (Vila Viçosa, Portugal, 1894 – Matosinhos, Portugal, 1930).
Palavras de Florbela
Espanca:
“Para
as traições, para as mentiras, para o que é vil e falso, tem a gente remédio:
tem o orgulho; mas para a dor que te faz mal, para essa nenhum remédio há.”
Gosto das Belas
coisas Claras e Simples
Para quê alcançar os astros?! Para quê?! Para os
desfolhar, por exemplo, como grandes flores de luz! Vê-los, vê-os toda a gente.
De que serve então ser poeta se se é igual à outra gente toda, ao rebanho?
Eu
não peço à Vida nada que ela me não tivesse prometido, e detesto-a e desdenho-a
porque não soube cumprir nem uma das suas promessas em que, ingenuamente,
acreditei, porque me mentiu, porque me traiu sempre. Mas não choro, não, como
os portugueses chorões, não tenho nada de Jeremias, pareço-me antes com Job,
revoltado, gritando imprecações no seu monte de estrume.
Não gosto de
lágrimas, de fados nem de guitarras, gosto das belas coisas claras e simples,
das grandes ternuras perfeitas, das doces compreensões silenciosas, gosto de
tudo, enfim, onde encontro um pouco de Beleza e de Verdade, de tudo menos do
bípede humano, em geral, é claro, porque há ainda no mundo, graças a Deus,
almas-astros onde eu gosto de me reflectir, almas de sinceridade e de pureza
sobre as quais adoro debruçar a minha.
Florbela Espanca, in "Correspondência "
Imagem: pintura de Ethel
Walker (Edimburgo, Escócia, Reino Unido, 1861 – Londres,
Reino Unido, 1951).
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