Samuel Beckett (Dublin, Irlanda,
1906 – Paris, França, 1989).
É um dos primeiros escritores pós-modernistas. Em 1969,
recebeu o “Prémio Nobel de Literatura”.
Palavras de Samuel
Beckett:
“Tenta.
Fracassa. Não importa. Tenta outra vez. Fracassa de novo. Fracassa melhor.”
É o Fim que confere
o significado às Palavras
Apenas as palavras quebram o silêncio, todos os outros
sons cessaram. Se eu estivesse silencioso, não ouviria nada. Mas se eu me
mantivesse silencioso, os outros sons recomeçariam, aqueles a que as palavras
me tornaram surdo, ou que realmente cessaram. Mas estou silencioso, por vezes
acontece, não, nunca, nem um segundo.
Também choro sem interrupção. É um fluxo
incessante de palavras e lágrimas. Sem pausa para reflexão. Mas falo mais
baixo, cada ano um pouco mais baixo. Talvez. Também mais lentamente, cada ano
um pouco mais lentamente. Talvez. É-me difícil avaliar.
Se assim fosse, as
pausas seriam mais longas, entre as palavras, as frases, as sílabas, as
lágrimas, confundo-as, palavras e lágrimas, as minhas palavras são as minhas
lágrimas, os meus olhos a minha boca.
E eu deveria ouvir, em cada pequena
pausa, se é o silêncio que eu digo quando digo que apenas as palavras o
quebram.
Mas nada disso, não é assim que acontece, é sempre o mesmo murmúrio,
fluindo ininterruptamente, como uma única palavra infindável e, por isso, sem
significado, porque é o fim que confere o significado às palavras.
Samuel Beckett, in 'Textos para Nada”
Imagem: pintura de George Frederic Watts (Reino Unido, 1817-1904).
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