terça-feira, 23 de junho de 2015

É o Fim que confere o significado às Palavras

 
 





Samuel Beckett (Dublin, Irlanda, 1906 – Paris, França, 1989).

É um dos primeiros escritores pós-modernistas. Em 1969, recebeu o “Prémio Nobel de Literatura”.

 

Palavras de Samuel Beckett:
“Tenta. Fracassa. Não importa. Tenta outra vez. Fracassa de novo. Fracassa melhor.”

 

É o Fim que confere o significado às Palavras

Apenas as palavras quebram o silêncio, todos os outros sons cessaram. Se eu estivesse silencioso, não ouviria nada. Mas se eu me mantivesse silencioso, os outros sons recomeçariam, aqueles a que as palavras me tornaram surdo, ou que realmente cessaram. Mas estou silencioso, por vezes acontece, não, nunca, nem um segundo.
Também choro sem interrupção. É um fluxo incessante de palavras e lágrimas. Sem pausa para reflexão. Mas falo mais baixo, cada ano um pouco mais baixo. Talvez. Também mais lentamente, cada ano um pouco mais lentamente. Talvez. É-me difícil avaliar.
Se assim fosse, as pausas seriam mais longas, entre as palavras, as frases, as sílabas, as lágrimas, confundo-as, palavras e lágrimas, as minhas palavras são as minhas lágrimas, os meus olhos a minha boca.
E eu deveria ouvir, em cada pequena pausa, se é o silêncio que eu digo quando digo que apenas as palavras o quebram.
Mas nada disso, não é assim que acontece, é sempre o mesmo murmúrio, fluindo ininterruptamente, como uma única palavra infindável e, por isso, sem significado, porque é o fim que confere o significado às palavras.

 

Samuel Beckett, in 'Textos para Nada”
Imagem: pintura de George Frederic Watts (Reino Unido, 1817-1904).

 

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