Milan Kundera (República
Checa, 1929).
Ficou
especialmente conhecido por aquela que é considerada a sua obra-prima, A insustentável
leveza do ser.
Roberto
Calasso, editor de Kundera na Itália: “Kundera é um dos poucos grandes escritores
vivos. E quando digo poucos, quero dizer que dá para contá-los em uma só mão.”
Palavras de Milan
Kundera:
Os Caminhos desapareceram
da Alma Humana
Caminho: faixa de terra sobre a qual se anda a pé. A
estrada distingue-se do caminho não só por ser percorrida de automóvel, mas
também por ser uma simples linha ligando um ponto a outro. A estrada não tem em
si própria qualquer sentido; só têm sentido os dois pontos que ela liga. O
caminho é uma homenagem ao espaço.
Cada trecho do caminho é em si próprio
dotado de um sentido e convida-nos a uma pausa. A estrada é uma desvalorização
triunfal do espaço, que hoje não passa de um entrave aos movimentos do homem,
de uma perda de tempo.
Antes ainda de desaparecerem da paisagem, os caminhos
desapareceram da alma humana: o homem já não sente o desejo de caminhar e de
extrair disso um prazer.
E também a sua vida ele já não vê como um caminho, mas
como uma estrada: como uma linha conduzindo de uma etapa à seguinte, do posto
de capitão ao posto de general, do estatuto de esposa ao estatuto de viúva.
O
tempo de viver reduziu-se a um simples obstáculo que é preciso ultrapassar a
uma velocidade sempre crescente.
Milan Kundera, in "A Imortalidade"
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