quarta-feira, 24 de junho de 2015

Os Caminhos desapareceram da Alma Humana

 
 
 
 
 

Milan Kundera (República Checa, 1929).

Ficou especialmente conhecido por aquela que é considerada a sua obra-prima, A insustentável leveza do ser.

Roberto Calasso, editor de Kundera na Itália: Kundera é um dos poucos grandes escritores vivos. E quando digo poucos, quero dizer que dá para contá-los em uma só mão.”

 
 
Palavras de Milan Kundera:


 
Os Caminhos desapareceram da Alma Humana

 
Caminho: faixa de terra sobre a qual se anda a pé. A estrada distingue-se do caminho não só por ser percorrida de automóvel, mas também por ser uma simples linha ligando um ponto a outro. A estrada não tem em si própria qualquer sentido; só têm sentido os dois pontos que ela liga. O caminho é uma homenagem ao espaço.
Cada trecho do caminho é em si próprio dotado de um sentido e convida-nos a uma pausa. A estrada é uma desvalorização triunfal do espaço, que hoje não passa de um entrave aos movimentos do homem, de uma perda de tempo.

Antes ainda de desaparecerem da paisagem, os caminhos desapareceram da alma humana: o homem já não sente o desejo de caminhar e de extrair disso um prazer.
E também a sua vida ele já não vê como um caminho, mas como uma estrada: como uma linha conduzindo de uma etapa à seguinte, do posto de capitão ao posto de general, do estatuto de esposa ao estatuto de viúva.
O tempo de viver reduziu-se a um simples obstáculo que é preciso ultrapassar a uma velocidade sempre crescente.

 
 
Milan Kundera, in "A Imortalidade"

Imagem: pintura de William Henry Maguire (Dublin, Irlanda, 1842 – 1924).

 

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