Ferreira
Gullar (São Luís, Maranhão, Brasil,
1930).
Poeta, dramaturgo, tradutor e
ensaísta recebeu, numa cerimónia realizada no Rio de Janeiro, Brasil, o Prémio
Camões.
Instituído pelos governos português e brasileiro em 1988, o Prémio Camões distingue, anualmente, um
autor que, pelo conjunto da sua obra, tenha contribuído para o enriquecimento
do património literário e cultural da língua portuguesa.
Gullar foi um dos subscritores do “Movimento Neoconcreto”,
que surgiu como reacção ao concretismo ortodoxo.
Foi o autor de dois dos maiores poemas brasileiros: Poema Sujo e Uma Fotografia Aérea.
Palavras
de Ferreira Gullar:
“Somos todos irmãos, não porque dividamos, o mesmo teto e a mesma mesa:
divisamos a mesma espada, sobre nossa cabeça.”
Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema.
O preço do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,
está fechado: “não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede nem cheira
Ferreira Gullar
O preço do feijão
não cabe no poema.
O preço do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,
está fechado: “não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede nem cheira
Ferreira Gullar
Sem comentários:
Enviar um comentário