sábado, 20 de junho de 2015

PRÉMIO CAMÕES – 2010 - FERREIRA GULLAR

 
 
 
 

Ferreira Gullar (São Luís, Maranhão, Brasil, 1930).

Poeta, dramaturgo, tradutor e ensaísta recebeu, numa cerimónia realizada no Rio de Janeiro, Brasil, o Prémio Camões.

Instituído pelos governos português e brasileiro em 1988, o Prémio Camões distingue, anualmente, um autor que, pelo conjunto da sua obra, tenha contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua portuguesa.

Gullar foi um dos subscritores do “Movimento Neoconcreto”, que surgiu como reacção ao concretismo ortodoxo.

Foi o autor de dois dos maiores poemas brasileiros: Poema Sujo e Uma Fotografia Aérea.

 
Palavras de Ferreira Gullar:

 Somos todos irmãos, não porque dividamos, o mesmo teto e a mesma mesa: divisamos a mesma espada, sobre nossa cabeça.
 
 
Não há vagas

O preço do feijão
não cabe no poema.
O preço do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores,
está fechado: “não há vagas”

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede nem cheira


Ferreira Gullar

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