segunda-feira, 15 de junho de 2015

As Restrições dos Guardiões Morais

 
 
 

Henry Miller (Nova Iorque, EUA, 1891 – Los Angeles, EUA, 1980). Foi autor de narrativas com grande liberdade de linguagem, que denunciam as obsessões do mundo moderno.

 

 
Palavras de Henry Miller:

“Ninguém é suficientemente pequeno ou pobre para ser ignorado.”

 

 
As Restrições dos Guardiões Morais

 

Parece-me a mim que o pressuposto em que se baseiam as acções restritivas dos nossos guardiões morais é simplesmente o de que o acesso à literatura proibida nos pode levar a comportar-se como animais.
Mas pensar assim é insultar o reino animal. E, ao mesmo tempo, transformar paixão, o maior atributo do homem, numa caricatura.
A gama da paixão humana é quase ilimitada, atingindo alturas e profundidades impensáveis. Precisamente por abarcar tais extremos é a paixão a autêntica pedra de toque da nossa humanidade, e talvez também da nossa divindade. De todas as criaturas da terra, o homem é a única de comportamento imprevisível.
Há em nós alguma coisa de toda a criação. Quando nos é negada a menor parcela de liberdade, ficamos espiritualmente limitados e mutilados.
É a plena consciência da nossa natureza múltipla e a integração da miríade de elementos de que somos compostos que nos faz completos, que nos faz humanos.
A religião faz de nós santos, ou apenas bons cidadãos, mas o que faz de nós homens, o que nos faz humanos até ao âmago, é a liberdade.
É uma palavra terrível, a liberdade, para aqueles que viveram toda a vida mentalmente algemados.

 
 
Henry Miller, in "A Obscenidade na Literatura"

Imagem: pintura de Ethel Walker (Edimburgo, Reino Unido, 1861 – Londres, Reino Unido, 1951).

 

 

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