Henry Miller (Nova Iorque, EUA,
1891 – Los Angeles, EUA, 1980). Foi autor de narrativas com grande liberdade de
linguagem, que denunciam as obsessões do mundo moderno.
Palavras de
Henry Miller:
“Ninguém é
suficientemente pequeno ou pobre para ser ignorado.”
As Restrições
dos Guardiões Morais
Parece-me a mim que o pressuposto em que se baseiam as
acções restritivas dos nossos guardiões morais é simplesmente o de que o acesso
à literatura proibida nos pode levar a comportar-se como animais.
Mas pensar
assim é insultar o reino animal. E, ao mesmo tempo, transformar paixão, o maior
atributo do homem, numa caricatura.
A gama da paixão humana é quase ilimitada,
atingindo alturas e profundidades impensáveis. Precisamente por abarcar tais
extremos é a paixão a autêntica pedra de toque da nossa humanidade, e talvez
também da nossa divindade. De todas as criaturas da terra, o homem é a única de
comportamento imprevisível.
Há em nós alguma coisa de toda a criação. Quando
nos é negada a menor parcela de liberdade, ficamos espiritualmente limitados e
mutilados.
É a plena consciência da nossa natureza múltipla e a integração da
miríade de elementos de que somos compostos que nos faz completos, que nos faz
humanos.
A religião faz de nós santos, ou apenas bons cidadãos, mas o que faz
de nós homens, o que nos faz humanos até ao âmago, é a liberdade.
É uma palavra
terrível, a liberdade, para aqueles que viveram toda a vida mentalmente
algemados.
Henry Miller, in "A Obscenidade na Literatura"
Imagem: pintura de Ethel Walker (Edimburgo, Reino Unido, 1861 – Londres, Reino Unido, 1951).
Sem comentários:
Enviar um comentário