Eça de Queirós (Póvoa de Varzim, Portugal, 1845 - Paris, França, 1900). É um dos mais importantes escritores portugueses.
Palavras de Eça
de Queirós:
“Em
Portugal a emigração não é, como em toda a parte, a transbordação de uma
população que sobra; mas a fuga de uma população que sofre.”
O Que
Verdadeiramente Mata Portugal
O que verdadeiramente nos mata, o que torna esta
conjuntura inquietadora, cheia de angústia, estrelada de luzes negras, quase
lutuosa, é a desconfiança.
O povo, simples e bom, não confia nos homens que
hoje tão espectaculosamente estão meneando a púrpura de ministros; os ministros
não confiam no parlamento, apesar de o trazerem amaciado, acalentado com todas
as doces cantigas de empregos, rendosas conezias, pingues sinecuras; os
eleitores não confiam nos seus mandatários, porque lhes bradam em vão: «Sede
honrados», e vêem-nos apesar disso adormecidos no seio ministerial; os homens
da oposição não confiam uns nos outros e vão para o ataque, deitando uns aos
outros, combatentes amigos, um turvo olhar de ameaça.
Esta desconfiança
perpétua leva à confusão e à indiferença. O estado de expectativa e de demora
cansa os espíritos.
Não se pressentem soluções nem resultados definitivos:
grandes torneios de palavras, discussões aparatosas e sonoras; o país, vendo os
mesmos homens pisarem o solo político, os mesmos ameaços de fisco, a mesma
gradativa decadência.
A política, sem actos, sem factos, sem resultados, é
estéril e adormecedora. (…)
Eça de Queirós, in “Distrito de Évora”.
Imagem: desenho da pintora portuguesa Manuela Pinheiro.
Vou levar comigo
ResponderEliminarEste texto é actual e pressinto que o será por muito muito muito mais tempo..
Maria