Alberto Caeiro (Heterónimo de Fernando Pessoa)
Palavras de Alberto
Caeiro:
“Sei que o mundo existe, mas não sei se existo.”
Quem me dera
que a minha vida fosse um carro de bois
Quem me dera
que a minha vida fosse um carro de bois
Que vem a
chiar, manhaninha cedo, pela estrada,
E que para de
onde veio volta depois
Quase à
noitinha pela mesma estrada.
Eu não tinha
que ter esperanças — tinha só que ter rodas...
A minha velhice
não tinha rugas nem cabelo branco...
Quando eu já não
servia, tiravam-me as rodas
E eu ficava
virado e partido no fundo de um barranco.
Ou então faziam
de mim qualquer coisa diferente
E eu não sabia
nada do que de mim faziam...
Mas eu não sou
um carro, sou diferente
Mas em que sou
realmente diferente nunca me diriam.
Poemas Completos
de Alberto Caeiro.
Imagem: pintura
de John Randall Bratby (Reino Unido,
1928-1992).
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