Câmara Pestana (Funchal, Madeira, Portugal, 1863 – Lisboa, Portugal, 1899)
Em 1876/1877, entrou no Liceu Nacional do Funchal, onde permaneceu até 1882. Nesse ano, chegou a Lisboa, onde frequentou os estudos da Escola Politécnica e da Escola Médico-Cirúrgica. Completou o curso em 1889 com distinção, apresentando a sua dissertação inaugural "O micróbio do carcinoma". Neste ano publicou, n´A Medicina Contemporânea, o seu primeiro artigo crítico "Febre tiphoide".
Foi interno do Hospital de São José e posteriormente, sócio da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa, por proposta de Bettencourt Rodrigues e Sousa Martins.
A descoberta da vacina anti-rábica, em 1885, por Louis Pasteur e os seus trabalhos sobre doenças contagiosas influenciaram Câmara Pestana.
Nos dez anos seguintes, Câmara Pestana foi reconhecido como uma autoridade no campo das doenças infecto-contagiosas.
Com os avanços no tratamento da tuberculose, foi enviado para Paris, em 1891, para estudar bacteriologia.
Iniciou investigações sobre o tétano e as suas toxinas, descobrindo a antitoxina tetânica e encerrando os fundamentos da imunização passiva.
Este seu estudo representou um dos expoentes máximos da sua vida profissional, e, poderia figurar junto a Behring na história da Ciência.
Em 1892, criou o Real Instituto Bacteriológico de Lisboa para administração da vacina anti-rábica. Este mais tarde teria importância no contexto da profilaxia da raiva.
Interveio em acções de divulgação, fundando a revista Arquivos de Medicina e publicando em revistas nacionais e europeias, como a Centralblatt fur Bakteriologie und Parasitenkunde.
Em 1894, foi incumbido da investigação do bacilo de uma epidemia febril, em Lisboa, que se pensava ser Cólera. Recorrendo à Microbiologia, refutou tal diagnóstico.
Preocupou-se com a contenção de epidemias, defendendo uma reforma na Saúde Pública e iniciou o estudo da “peste bubónica”, em particular na Europa. No mesmo ano, foi encarregue, pela administração do Hospital de S. José, do estudo e tratamento da Difteria.
Um ano depois, assumiu o lugar de cirurgião extraordinário das enfermarias do referido hospital.
Em 1898, Câmara Pestana apresentou uma tese “A Sôrotherapia” e progrediu na carreira, tornando-se regente das cadeiras de Higiene e Medicina Legal e Anatomia Patológica. Nesse ano, fundou, com outros colegas a Associação dos Médicos Portugueses.
No ano seguinte, a peste irrompeu no Porto. Inicialmente diagnosticada por Ricardo Jorge, foi posteriormente confirmada por Câmara Pestana e Albert Calmette.
No Verão de 1899, Câmara Pestana esteve no Porto, assistindo às primeiras autópsias em cadáveres infectados e recolhendo material para aperfeiçoamento da prevenção epidémica.
Na procura de reagentes para criar a vacina antipestosa, Câmara Pestana voltou ao Porto e infectou-se mortalmente. Já consciente do seu fim, afirmou «A consciência… do dever cumprido… é bastante… Olha… merece a pena ser bom…».
Morreu a 15 de Dezembro de 1899.
Face à sua morte, houve um pesar generalizado, pelo que se pode afirmar que “a sua morte precoce ao serviço da ciência deu lugar ao herói popular”.
Para além do Instituto, construção apoiada pela rainha D. Amélia, o seu nome é ainda recordado em vários prémios de cariz científico.
Fonte: Dicionário de Médicos Portugueses
Imagem: Retrato de Câmara Pestana (1900), por João Galhardo (1870-1903), no Instituto Bacteriológico de Câmara Pestana.