CONFERÊNCIAS
CIENTÍFICAS
(Para os alunos dos liceus)
O ALHO
O
alho, vegetalmente falando, é um tempero. Todos os meninos e meninas que me
escutam sabem que é ele, se não o condimento principal da açorda, aquele que
lhe dá o gostinho especial tão do agrado dos nossos paladares.
Encontra-se
o alho profusamente espalhado na natureza e em especial nos mercados, como o da
Praça da Figueira e o do Aterro, não sendo também raro encontrar-se nos ceirões
dos vendedores ambulantes e ainda aos ombros destes, dispostos em séries, que
se denominam réstias.
Do
alho só se aproveita, para uso doméstico, a cabeça; as outras partes do corpo
desprezam-se.
De
todos os temperos, é o alho o mais inteligente; diz-se “esperto como um alho” e
não esperto como uma cebola, como a salsa, como a pimenta, etc.
“Sou
um alho” significa que sou um barra, uma luminária ou outro objecto qualquer de
reconhecido talento.
É
certo que se diz dos parvos que são “cabeças de alho”, mas nesta expressão está
subentendida a palavra “podre”, porque as cabeças de alhos podres é que já não
servem para nada.
Possui
o alho uma anomalia anatómica muito de notar e é que não tem crânio nem faces,
mas dentes unicamente, apresentando ainda a particularidade de nunca os mudar,
de ter uma única dentição; pelo que o alho não sofre nunca daquelas
impertinentes rabugens infantis, que se atribuem aos primeiros dentes.
Referimo-nos
nestas ligeiras considerações ao alho civilizado, ao que a cultura tornou
propício à conveniência do homem; há, contudo, também o alho selvagem ou bravo,
cujo nome popular é igual ao de certo general italiano, que se não pode dizer
adiante de meninos nem, muito principalmente, de meninas. Sabê-lo-ão a seu
tempo.
Sem
mais por hoje
Bonaparte
(Aluno do Liceu Camões).
Fonte: HML – “Século Cómico” nº 975, de 10 de Julho de 1916, suplemento humorístico do jornal “O Século”.
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