PREGÕES MATINAIS
Passo às vezes na cama um dia inteiro
De papo para o ar, como um madraço…
Fumando qual filósofo ou palhaço,
– Sem mulher… sem cuidados… sem dinheiro!
É de manhã então que me é fagueiro
Ouvir trinar no cristalino espaço
Um pregão mais macio que um regaço,
Que se esvai a carpir… como um boieiro…
De manhã é que passa a leiteirinha,
Com seu pregão chilrado de andorinha,
Passam varinas de gargantas sãs…
E ao escutar tais cantantes semifusas,
Eu creio que oiço ao longe as frescas Musas,
– A vender uvas e a pregoar maçãs.
Gomes Leal, poeta e crítico literário (Lisboa, Portugal, 1848 – 1921).
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