sábado, 10 de dezembro de 2016

ACTOR TABORDA




Francisco Alves da Silva Taborda (Abrantes, Portugal, 1824 - Lisboa, 1909).

Se não fosse a sua grande modéstia irreductível, chamar-lhe-íamos génio. Mas esta palavra altissonante não vai de molde a quem, como o actor Taborda, faz da humildade o timbre do seu carácter e da isenção a divisa incorruptível da sua vida. Chamemos-lhe então instinto, se quiserem. O certo é que o nosso grande actor cómico foi, na arte de representar, naturalissimamente e sem esforço, um portentoso revolucionário. 

Iluminado por esta sublime inconsciência que é a pedra de toque das individualidades de eleição, ele, sem o querer, sem o saber, reabilitou a arte do teatro entre nós, restituindo-a à verdade; foi o mais admirável e o mais completo precursor do naturalismo. 

E pelo mais simples dos processos. Pondo de parte os grossos esgares e os descomedidos gestos, as inflexões tonitruantes e os arrancos desgrenhados, deu-se ele apenas a compor singelissimamente, as suas personagens dentro da moldagem da realidade. 

Os outros, ao declamar, cantavam; ele limitou-se a falar. Os demais, a forçarem a graça, desarticulavam-se nos mais inverossímeis acrobatismos do grotesco. Taborda não fazia senão sorrir… E assim triunfou; assim trouxe de novo para o palco a naturalidade e a vida; assim varreu a cena portuguesa de toda essa farraparia romântica, que trazia estragado o gosto e o sentimento do Belo pervertido. 

Apesar das cenas cómicas e farsas banalíssimas - a produção teatral não lhe oferecia coisa melhor - Taborda tinha o milagroso condão de encontrar, e extrair para a evidência, graça, interesse, carácter, pitoresco, agrado. Um resultado que seria inverossímil, para quem não tivesse os seus recursos excepcionais, - aquele rosto bem moldado e enérgico de máscara grega; a voz, afinada sempre e batida em cadências de meia-tinta; e o gesto breve e espontâneo, frisado apenas o bastante para sublinhar a frase, para dar a diferenciação lógica e necessária do individuo no meio colectivo.

Taborda é hoje uma das nossas figuras mais prestigiosas e queridas. Com sobeja razão. Porque marca para nós, para a arte de representar e para o teatro português, uma fase de acentuado avanço. Foi este um ponto mais em que andámos adiante da França. 



in “O Grande Elias” – Semanário Ilustrado, Literário e Teatral – Lisboa, 1 de Outubro de 1903.


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Em 1871 actuou no Brasil durante três meses, ali obtendo também grandes triunfos. Ídolo popular, um dos seus maiores êxitos obteve-o em 1881, na comédia A Voz do Sangue, representada consecutivamente mais de 70 vezes.

Alguns anos depois da sua morte, em 1912, a então Vila de Abrantes ergueu-lhe uma estátua no jardim já existente e que viria a ter o seu nome, em frente do edifício que também teve o nome de Teatro Taborda, onde o actor tantas vezes representou.

Em Lisboa, na Costa do Castelo, reabriu ao público, em 1995, após recuperação das velhas instalações, mantendo os elementos tradicionais oitocentistas.



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