Francisco Alves da Silva Taborda (Abrantes, Portugal, 1824 - Lisboa, 1909).
Se não fosse a sua grande
modéstia irreductível, chamar-lhe-íamos génio. Mas esta palavra altissonante
não vai de molde a quem, como o actor Taborda, faz da humildade o timbre do seu
carácter e da isenção a divisa incorruptível da sua vida. Chamemos-lhe então
instinto, se quiserem. O certo é que o nosso grande actor cómico foi, na arte
de representar, naturalissimamente e sem esforço, um portentoso revolucionário.
Iluminado por esta sublime inconsciência que é a pedra de toque das
individualidades de eleição, ele, sem o querer, sem o saber, reabilitou a arte
do teatro entre nós, restituindo-a à verdade; foi o mais admirável e o mais
completo precursor do naturalismo.
E pelo mais simples dos processos. Pondo de
parte os grossos esgares e os descomedidos gestos, as inflexões tonitruantes e
os arrancos desgrenhados, deu-se ele apenas a compor singelissimamente, as suas
personagens dentro da moldagem da realidade.
Os outros, ao declamar, cantavam;
ele limitou-se a falar. Os demais, a forçarem a graça, desarticulavam-se nos
mais inverossímeis acrobatismos do grotesco. Taborda não fazia senão sorrir… E
assim triunfou; assim trouxe de novo para o palco a naturalidade e a vida;
assim varreu a cena portuguesa de toda essa farraparia romântica, que trazia
estragado o gosto e o sentimento do Belo pervertido.
Apesar das cenas cómicas e
farsas banalíssimas - a produção teatral não lhe oferecia coisa melhor - Taborda
tinha o milagroso condão de encontrar, e extrair para a evidência, graça,
interesse, carácter, pitoresco, agrado. Um resultado que seria inverossímil,
para quem não tivesse os seus recursos excepcionais, - aquele rosto bem moldado
e enérgico de máscara grega; a voz, afinada sempre e batida em cadências de
meia-tinta; e o gesto breve e espontâneo, frisado apenas o bastante para
sublinhar a frase, para dar a diferenciação lógica e necessária do individuo no
meio colectivo.
Taborda é hoje uma das
nossas figuras mais prestigiosas e queridas. Com sobeja razão. Porque marca
para nós, para a arte de representar e para o teatro português, uma fase de
acentuado avanço. Foi este um ponto mais em que andámos adiante da França.
in “O Grande Elias” –
Semanário Ilustrado, Literário e Teatral – Lisboa, 1 de Outubro de 1903.
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Em 1871 actuou no Brasil
durante três meses, ali obtendo também grandes triunfos. Ídolo popular, um dos
seus maiores êxitos obteve-o em 1881, na comédia A Voz do Sangue, representada consecutivamente mais de 70 vezes.
Alguns anos depois da sua
morte, em 1912, a então Vila de Abrantes ergueu-lhe uma estátua no jardim já
existente e que viria a ter o seu nome, em frente do edifício que também teve o
nome de Teatro Taborda, onde o actor tantas vezes representou.
Em Lisboa, na Costa do
Castelo, reabriu ao público, em 1995, após recuperação das velhas instalações,
mantendo os elementos tradicionais oitocentistas.
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