quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

LUIS DE GÓNGORA - Os brancos lírios que, de cento em cento





Luis de Góngora (Córdova, Espanha, 1561-1627).

Poeta, figura exponencial do cultismo e do conceptismo e criador do movimento literário chamado gongorismo. 

Mal compreendido na sua época, em virtude da afectação e dos requintes estilísticos da sua obra, viu-se Góngora atacado e ridicularizado por muitos dos seus contemporâneos, como Lope de Veja e Quevedo, não obstante a admiração apaixonada de alguns poucos.

Foi somente no século XX que ele se viu reabilitado e consagrado como uma das maiores expressões da literatura espanhola. 

Habilíssimo sonetista, a sua obra culmina com a Fábula de Polifemo e Galatéia, o Panegírico ao Duque de Lerma e, sobretudo, com as Soledades, que apesar de inacabadas, são hoje consideradas a obra-prima da literatura espanhola de todos os tempos.



in “Dicionário Larousse”


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Os brancos lírios que, de cento em cento

Os brancos lírios que, de cento em cento,
filhos do sol, nos dá a primavera,
a quem do Tejo são nesta ribeira
ouro seu berço, perlas o alimento;

as frescas rosas, que ambicioso o vento
com pluma solicita lisonjeira,
como quem de uma ou outra folha espera
purpúreas asas, se lascivo alento,

ao vosso belo pé cada qual deve
toda a beleza, que fará a mão,
se tanto pode o pé, que ostenta flores,

por que vosso esplendor supere a neve,
vença seu rosicler, e por que em vão,
falando vós, espirem seus olores?          


Tradução:Fernando Mendes Vianna



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