sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

JOÃO RUI DE SOUSA - Ponto de fuga




João Rui de Sousa (Lisboa, Portugal, 1928).

Concluiu o curso técnico agrícola na Escola Prática de Agricultura D. Dinis e licenciou-se em Ciências Históricas e Filosóficas, pela Faculdade de Letras de Lisboa.

Em 1982 ingressou como investigador de espólios literários na Biblioteca Nacional.

A sua actividade literária divide-se entre a criação poética e o ensaísmo, cujo núcleo dominante consiste no estudo da poesia.

Fez a sua estreia (poemas e ensaio) na revista "Cassiopeia", da qual integrou a equipa de direcção, juntamente com José Bento, José Terra, António Carlos e António Ramos Rosa.
Tem colaborado em várias publicações, nacionais e estrangeiras e está representado em numerosas antologias.

Algumas Obras: Circulação, A Hipérbole na Cidade, Enquanto a Noite, a Folhagem, Os Percursos, as Estações, Fernando Pessoa – Empregado de Escritório, António Ramos Rosa ou o Diálogo com o Universo.



in "Instituto Camões”


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Palavras de João Rui de Sousa:
“O poema é um ser vivo, diria que tem vida quase própria, susceptível de ser riscado, alterado, acrescentado, sem perder autonomia.”



           Ponto de fuga


Procuro a minha voz e não a encontro.
Procuro o meu silêncio e não o tenho.
Ao desencontro vem o desencontro,
do maior ao menor é o meu tamanho.

No alto das esferas rolam as esferas, 
ermo adormecido, doida escuridão.
Procuro ali a voz e não a encontro.
Procuro o meu silêncio e não mo dão.

A espaços vi tão perto o meu querer,
a dúvida desfeita, puro abraço,
que logo pensei eu que a voz viesse
ou chegasse o silêncio ao meu cansaço.

Mas não. No grande desencanto (e frio)
em que na rua, gasto, me detenho,
procuro a minha voz e não a encontro,
procuro o meu silêncio e não o tenho.




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