Sombra
Aqui
estás de novo perto de mim
Lembranças
de meus companheiros mortos na guerra
A
oliva do tempo
Lembranças
que formam uma só
Assim
como cem peles formam um só casaco
E
centenas de feridos só fazem uma notícia
de
jornal
Aparência
impalpável e sombria que havias tomado
A
forma cambiante de minha sombra
Um
índio à espreita por toda a eternidade
Sombra
tu rastejas perto de mim
Mas
já não me olhas nem me ouves
Não
conhecerás os poemas sublimes que canto
Enquanto
sou eu quem os digo e os vejo
Destinos
Sombra
múltipla que o sol te guarda
Tu
que amas o suficiente para não me deixar nunca
E
que danças ao sol sem levantar poeira
Sombra
tinta do sol
Escritura
de minha luz
Arcão
de penas
Um deus que se humilha
Guillaume Apollinaire – escritor,
poeta e crítico de arte (Roma, Itália, 1880 – Paris, França,
1918).
Tradução:
André Dick
Imagem:
pintura de Sousa Lopes (Leiria, Portugal, 1879 – Lisboa, 1944).
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