sábado, 3 de dezembro de 2016

UM ESCÂNDALO HISTÓRICO





UM ESCÂNDALO HISTÓRICO


A 29 de Maio de 1913 tem lugar, no "Théàtre des Champs Elysées", de Paris, uma das estreias mais polémicas da história da música. 

A obra em questão é um bailado passado na Rússia primitiva, A Sagração da Primavera, cuja música é obra de um jovem que só dois anos antes tinha sido acolhido como o herdeiro dos grandes compositores russos, Igor Stravinsky. 

Passados escassos minutos de iniciada a obra, o público rompe em insultos, sarcasmos, ruídos e toda a espécie de gritos. A tensão vai aumentando à medida que avança a representação entre a assistência, um dos quais acaba em duelo no dia seguinte. 

Apresentada pela Companhia dos "Ballets Russos", de Diaghilev, com uma coreografia de Nijinsky, é uma peça que assombra pelos seus ritmos deslocados, as suas chocantes harmonias e uma orquestração agressiva que concede grande papel às secções de metal e percussão. 

Todavia, este não é o primeiro escândalo dos "Ballets Russos" nesta temporada: uns meses antes, a 15 de Maio, a estreia de Jogos, de Debussy, é recebida pela assistência com assobios, gritaria e insultos. Com este bailado e a composição de Stravinsky, uma coisa parece clara em vésperas da Primeira Guerra Mundial: o mundo mudou, e com ele algo que até pouco tempo antes se considerava invariável e eterno, como é a ideia da beleza.



in “Crónica da Música”

Imagem: Cena do bailado Jogos, de Debussy – aguarela de Valentine Gross (França), na qual aparecem Ludmilla Schollar, Vaslav Nijinsky e Tamara Karsavina, dos Ballets Russos.


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