O bispo e a burra
Esta é uma história que
irá virar lenda — saiba o povo com a sua arte acrescentar-lhe imaginação.
Em tempos remotos — ainda
não havia, em muitas paróquias serranas, acessos a carro — uma das mais
afastadas da então vila de Amarante foi agraciada com a visita do Bispo da
Diocese.
Marcada a data tudo se
preparou para receber Sua Excelência com festa e charanga. A igreja tinha os
altares engalanados; a torre sineira rejubilava com enfeites em papel; as ruas
ricamente atapetadas com verdes e flores e até as casas tinham lavado a cara.
Honra destas não era todos os dias e Canadelo fazia questão de receber o
prelado, mais alto da diocese, com honra, alegria e prazer.
Chegado o dia toca a
organizar o cortejo que iria receber o senhor Bispo no lugar de Ordes, que
ficava a cerca de cinco quilómetros do centro da freguesia. Como o carro não
passava deste lugar era imperioso ajaezar uma burra para o transporte de Sua
Excelência.
Se bem o pensaram melhor o
fizeram. Ajaezaram uma burra, enfeitaram o percurso e fizeram um lindo tapete
de flores e no local, em Ordes, um grande arco dava as boas-vindas ao senhor
Bispo.
Chegado o Prelado é
recebido com palmas, acenos, foguetes e charanga. Ao ver o transporte que lhe
estava destinado ficou perplexo e indeciso sobre a segurança e as capacidades
do animal.
O dono do bicho, ao ver
tanta hesitação, como bom conhecedor das prestações da sua besta, resoluto e
cheio de simpatia virou-se para o Bispo e disse:
- Atrepe-lhe tio bispo...,
olhe que a burra pode..., ela até arrasta o diabo.
Perante argumentos tão
convincentes, o Prelado, não teve outro remédio senão subir para a mansa e
bem-educada burra que, ao rebate de uns “arre boneca”, iniciou a longa
caminhada até à engalanada freguesia de Canadelo, tão rica na sua história e na
sua gente.
Fonte: Biblio PATRÍCIO,
António Lendas de S. Gonçalo e de Amarante Amarante, Paróquia de S. Gonçalo,
2009.
Imagem. Pintura de Lucília Aranha – pintora portuguesa
nascida em 1877.
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