QUANTO MAIS VOS PAGO, MAIS VOS DEVO
Quem
vê, Senhora, claro e manifesto
O
lindo ser de vossos olhos belos,
Se
não perder a vista só com vê-los,
Já não paga o que deve a vosso gesto.
Este
me parecia preço honesto;
Mas
eu, por de vantagem merecê-los,
Dei
mais a vida e alma por querê-los;
Donde já me não fica mais de resto.
Assim
que Alma, que vida, que esperança,
E
que quanto for meu, é tudo vosso:
Mas de tudo o interesse eu só o levo.
Porque
é tamanha bem-aventurança
O
dar-vos quanto tenho, e quanto posso,
Que quanto mais vos pago, mais vos devo.
LUÍS
DE CAMÕES (Lisboa, Portugal,
1524 – 1580).
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