Federico Garcia Lorca
(Fuente Vaqueros, Granada, Espanha, 1898 – Granada, 1936).
Poeta
e dramaturgo.
Em Agosto de 1936 foi fuzilado em Granada, por
militantes franquistas, no início da Guerra Civil Espanhola.
Morto
de Amor
Que
é aquilo que reluz
pelos
altos corredores?
Fecha
essa porta, meu filho,
acabam
de dar as onze.
Em
meus olhos, sem querer,
brilham
quatro lampiões.
Talvez
ainda aquela gente
esteja a polir o cobre.
*
Alho
de agónica prata
o
quarto minguante, põe
cabeleiras
amarelas
sobre
as amarelas torres.
A
noite chama a tremer
a
vidraça das varandas,
perseguida
pelos mil
rafeiros
que não a conhecem,
e
um olor de vinho e âmbar
solta-se dos corredores.
*
Brisas
de cana molhada
e
rumor de velhas vozes
ressoavam
pelo arco
quebrado
da meia-noite.
Os
bois e as rosas dormiam.
Somente
nos corredores
as
quatro luzes clamavam
com
o furor de S. Jorge.
Tristonhas
mulheres do vale
desciam
seu sangue de homem,
tranquilo
de flor cortada
e
amargo de coxa jovem.
E
velhas mulheres do rio
choravam
ao pé do monte
um
minuto intransitável
de
cabeleiras e nomes.
Fachadas
de cal tornavam
quebrada
e branca essa noite.
Ciganos
e serafins
tocavam
acordeões.
Minha
mãe, quando eu morrer,
que
se informem os senhores.
Põe
telegramas azuis
que
cheguem ao Sul e ao Norte.
Sete
gritos, sete sangues,
sete
duplas papoulas,
quebraram
opacas luas
pelos
escuros salões.
Coberto
de mãos cortadas
e
de grinaldas de flores,
o
oceano dos juramentos
ressoava,
não sei onde.
E
o céu batia nas portas
do
brusco rumor do bosque,
enquanto
as luzes clamavam
pelos altos corredores.
in “Romancero Gitano”
Tradução: José Bento
Imagem: retrato de Garcia Lorca por Gregorio Prieto
(Espanha, 1897-1992) pintor da Geração de 27.
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