JORGE ROSA
(Lisboa, Portugal, 1930 – 2001)
Artista plástico, cenógrafo e poeta
Artista plástico multifacetado, com uma obra invulgarmente
extensa, considerando os variados campos da arte a que se dedicou.
Aos 18 anos começou a distinguir-se pelo elevado valor artístico
dos seus trabalhos de desenho, a crayon de nus
artísticos e animais e a tinta-da-china de obras religiosas como a Descida da Cruz, Cristo Crucificado e as fachadas de igrejas e monumentos de Lisboa
apresentando já, na opinião dos seus mestres, uma elevada qualidade e rigor
de pormenor.
Ao longo de mais de 50 anos, dedicou-se ininterrupta e
simultaneamente, com singular maestria, às artes de: desenhador, maquetista,
pintor, decorador, figurinista, cenógrafo e poeta.
Sendo um apaixonado pela cidade de Lisboa e da sua vida nocturna e
particularmente dos seus bairros mais populares como a Madragoa, Alfama, Bairro
Alto e Mouraria, onde se cantava o fado de que muito gostava, pintou
magistralmente as sua casas, suas escadinhas e suas gentes, de que se destacam
os quadros de casario, telhados e figuras típicas como as varinas, os fadistas
e os vendedores de rua.
Realizou dezenas de exposições individuais e
colectivas, com centenas de quadros que produziu.
Como maquetista, desenhou e pintou, programas de espectáculos,
catálogos de exposições, cartazes publicitários de montra e de parede de
filmes, de peças de teatro, especialmente revistas do Parque Mayer, onde
durante 40 anos então como cenógrafo, concebeu cenários e desenhou guarda
roupas, tendo também colaborado com poemas.
Para as marchas dos santos populares dos bairros de Alfama,
Madragoa, Mouraria e Carnide, desenhou arcos e produziu as letras das marchas,
algumas das quais, também musicou.
Como caricaturista, a sua capacidade de apreensão rápida em poucos
traços das características mais significativas de cada caricaturado, tornaram-no,
sem dúvida, de longe, no caricaturista português preferido, com uma obra ímpar
quer em qualidade quer em quantidade.
Entre os anos de 1950 e 2000 foi o caricaturista que produziu 90%
das caricaturas de todos os livros de curso editados na zona da Grande Lisboa,
cada um deles com dezenas de imagens.
Como poeta, em parceria com os melhores maestros e músicos, compôs
fados inesquecíveis que foram cantados por todos os fadistas de maior nomeada.
Os poemas que originaram fados, canções e marchas e que se
encontras registados na Sociedade Portuguesa de Autores, rondam os 800, não
considerando aqueles, e foram muitos, de que o poeta abdicou dos seus direitos
autorais para oferecer aos seus amigos e amigas cançonetistas e fadistas.
Do seu enorme espólio artístico de pinturas, caricaturas e poemas,
destacam-se cerca de 3.000 poemas inéditos que os seus herdeiros põem à
disposição de todos os artistas que os quiserem cantar, alguns dos quais já
foram escolhidos, após sua morte, por artistas consagrados.
in “Portal do Fado”
(excertos)
ESCREVI TEU NOME NO VENTO
Escrevi
teu nome no vento
Convencido
que o escrevia
Na
folha dum esquecimento
Que
no vento se perdia
Ao
vê-lo seguir envolto
Na
poeira do caminho
Julguei
meu coração solto
Dos
elos do teu carinho
Pobre
de mim, não pensava
Que
tal e qual como eu
O
vento se apaixonava
Por
esse nome, que é teu
Em
vez de ir longe, e levá-lo
Longe
onde o tempo o desfaça,
Anda
contente a gritá-lo
Onde
passa e a quem passa
E
quando o vento se agita,
Agita-se
o meu tormento;
Quero
esquecer-te, acredita,
Mas cada vez há mais vento
Fado
de Lisboa:
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Letra: Jorge Rosa
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Música: Raul Ferrão