Poema
de MANUEL DA FONSECA dedicado a MANUELA PORTO
I
Como
búzio que ecoa
rumores
do mar distante,
nossa
saudade guarda
a tua voz ausente.
Na
névoa da miragem
que
as lágrimas estremece,
velado
como em sonhos
teu rosto transparece.
E
teus olhos, Senhora,
estrelas
que a alva esfria,
cintilam
indecisos
entre a noite e o dia.
Como
quem escuta um búzio
-
na muda madrugada
nossa
saudade escuta
tua voz apagada.
II
Imóvel
e deslumbrada
mágico
sonho sonhava.
Longínqua,
feita de nada,
a
erguida presença alada
no
ar lavado flutuava.
Absorto,
vogando espaços,
seu
olhar claro e profundo
vinha,
por ocultos traços,
através
de altos terraços,
debruçar-se
sobre o Mundo.
Com
gestos lentos abria
aérea
graça gentil.
Voz
onde a vida fluía
na
alteada melodia
da nitidez do perfil.
(Ora
quando despertava
das
harmonias extremas,
se
o mundo a interrogava,
a
cabeça reclinava,
e respondia : Sei poemas.)
MANUEL DA FONSECA, poeta e escritor (Santiago do Cacém, Portugal, 1911 -
Lisboa, 1993).
MANUELA PORTO, escritora,
actriz e declamadora (Lisboa, Portugal, 1908-1950).
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