RUY BARBOSA
(Bahia, Brasil, 1849 – Rio de Janeiro, 1923)
Escritor,
jornalista, jurista, político, ensaísta e orador
Membro fundador da Academia Brasileira de Letras.
Após a formatura, em 1870,
mudou-se para o Rio de Janeiro, onde iniciou a carreira na tribuna e na
imprensa, abraçando como causa inicial a abolição da escravatura.
Como redator-chefe do “Jornal
do Brasil”, abriu campanha contra a situação florianista. Em 1893, foi obrigado
a se exilar. Dirigiu-se, em primeiro lugar, para Buenos Aires, depois para
Lisboa, onde alguns incidentes levaram-no a escolher Londres. Escreveu, então,
as famosas Cartas da Inglaterra para
o Jornal do Comércio.
Foi a primeira voz a levantar-se no mundo contra o
processo Dreyfus.
Restaurada a ordem no
Brasil, em 1895 Ruy Barbosa regressou do exílio.
Palavras
de
Ruy
Barbosa
“Justiça
tardia nada mais é do que injustiça institucionalizada.”
Sinto
vergonha de mim
Sinto
vergonha de mim
por
ter sido educador de parte deste povo,
por
ter batalhado sempre pela justiça,
por
compactuar com a honestidade,
por
primar pela verdade
e
por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto
vergonha de mim
por
ter feito parte de uma era
que
lutou pela democracia,
pela
liberdade de ser
e
ter que entregar aos meus filhos,
simples
e abominavelmente,
a
derrota das virtudes pelos vícios,
a
ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
a
negligência com a família,
célula-Mater
da sociedade,
a
demasiada preocupação
com
o 'eu' feliz a qualquer custo,
buscando
a tal 'felicidade'
em
caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.
Tenho
vergonha de mim
pela
passividade em ouvir,
sem
despejar meu verbo,
a
tantas desculpas ditadas
pelo
orgulho e vaidade,
a
tanta falta de humildade
para
reconhecer um erro cometido,
a
tantos 'floreios' para justificar
actos
criminosos,
a
tanta relutância
em
esquecer a antiga posição
de
sempre 'contestar',
voltar
atrás
e mudar o futuro.
Tenho
vergonha de mim
pois
faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando
por caminhos
que não quero percorrer...
Tenho
vergonha da minha impotência,
da
minha falta de garra,
das
minhas desilusões
e do meu cansaço.
Não
tenho para onde ir
pois
amo este meu chão,
vibro ao ouvir o meu Hino
e
jamais usei a minha Bandeira
para
enxugar o meu suor
ou
enrolar o meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao
lado da vergonha de mim,
tenho
tanta pena de ti,
povo deste mundo!
'De
tanto ver triunfar as nulidades,
de
tanto ver prosperar a desonra,
de
tanto ver crescer a injustiça,
de
tanto ver agigantarem-se os poderes
nas
mãos dos maus,
o
homem chega a desanimar da virtude,
A
rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto'.
Publicação nº 1236
Publicação nº 1236
MUY BUENO
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