terça-feira, 10 de janeiro de 2017

A CHÁVENA DE CHÁ






A CHÁVENA DE CHÁ


Era um erudito arrogante que ouvira falar de um grande sábio, e disse para si próprio: «Não deve ter nada para me ensinar, mas também não perco nada por visitá-lo”. Uma vez em casa do sábio, ambos se sentaram na sala. O erudito começou a mostrar os seus saberes literários, usando todo o tipo de sentenças e divagando sobre matérias diversas.
De súbito, o sábio disse:

- Um momento, vou trazer chá.

Voltou com um tabuleiro com duas chávenas e uma chaleira. Começou a servir chá na chávena do convidado e, quando esta já estava cheia, continuou a servir chá, derramando-o pela mesa. O convidado, mal-humorado, exclamou:

- Mas não está a ver que a chávena já está cheia?

O sábio respondeu serenamente:

- E o senhor não vê que, com tanto conhecimento emprestado, não é capaz de aprender mais nada?


Para atingir a serenidade, a virtude, a claridade da mente e a sabedoria, os conhecimentos teóricos são de pouca ajuda. A teoria só é útil se nos induz à prática e nos motiva para nos irmos transformando. Ninguém se liberta com conhecimentos emprestados, mas sim através da própria experiência e do trabalho interior que, sendo feito com esforço e diligência, noa ajuda a combater a negligência, permitindo-nos ir dissipando os obscurecimentos da mente.



in “Os Melhores Contos Espirituais do Oriente” – Ramiro Calle
Imagem: pintura de Giulio Rosati (Roma, Itália, 1858 – 1917).


Publicação nº 1251


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