quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

JAIME CORTESÃO - Cartas à Mocidade





JAIME CORTESÃO

(Ançã, Cantanhede, Portugal, 1884 – Lisboa, 1960)

Escritor, historiador, médico e político


CARTAS À MOCIDADE


Eu sei que à tua beira se abrem os caminhos fáceis e sedutores. 
Se és ambicioso, podes ganhar glória, dinheiro ou poderio, com pequeno custo. Escritor, basta-te lisonjear o mau gosto do público e as suas piores inclinações. Político, enfileira nos partidos e dobra-te às imposições das clientelas. Jornalista, serve as oligarquias do dinheiro e as paixões populares. Profissional, abre balcão e faz da tua profissão apenas um negócio. 

És, enfim, um habilidoso animado pela cupidez: oprime os fracos, abusa da ignorância, aproveita as condescendências da moral comum, explora a miséria, a estupidez ou os vícios humanos, e depressa chegarás aos fastígios ilusórios que não alcançam os que trabalham com esforço rude e com desejo de Justiça. 

Esses são, em verdade, os caminhos mais fáceis. À tua volta os teus falsos amigos, quantas vezes os teus próprios pais e parentes impelem-te docemente e juncam de rosas a lisa estrada para que ela te apeteça mais. 

Pois eu digo-te: se meteres por aí, degradas-te à condição repugnante de certos animais inferiores, que mudam a cor conforme o meio e parasitam para poder viver (…)

Ao contrário, o homem superior, o mais forte, o mais belo é aquele que mais desinteressadamente serve a comunidade. E uma sociedade será tanto mais sólida e perfeita quanto maior o número dos espíritos que a servem com puro desinteresse.



in “Seara Nova” - 1921
Imagem: Busto a Jaime Cortesão – Ançã - Portugal




Publicação nº 1252






                                                                       

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