JAIME CORTESÃO
(Ançã, Cantanhede, Portugal, 1884 – Lisboa,
1960)
Escritor, historiador, médico e político
CARTAS
À MOCIDADE
Eu sei que à tua beira se
abrem os caminhos fáceis e sedutores.
Se és ambicioso, podes ganhar glória,
dinheiro ou poderio, com pequeno custo. Escritor, basta-te lisonjear o mau
gosto do público e as suas piores inclinações. Político, enfileira nos partidos
e dobra-te às imposições das clientelas. Jornalista, serve as oligarquias do
dinheiro e as paixões populares. Profissional, abre balcão e faz da tua
profissão apenas um negócio.
És, enfim, um habilidoso animado pela cupidez:
oprime os fracos, abusa da ignorância, aproveita as condescendências da moral
comum, explora a miséria, a estupidez ou os vícios humanos, e depressa chegarás
aos fastígios ilusórios que não alcançam os que trabalham com esforço rude e
com desejo de Justiça.
Esses são, em verdade, os caminhos mais fáceis. À tua
volta os teus falsos amigos, quantas vezes os teus próprios pais e parentes
impelem-te docemente e juncam de rosas a lisa estrada para que ela te apeteça
mais.
Pois eu digo-te: se meteres por aí, degradas-te à condição repugnante de
certos animais inferiores, que mudam a cor conforme o meio e parasitam para
poder viver (…)
Ao contrário, o homem
superior, o mais forte, o mais belo é aquele que mais desinteressadamente serve
a comunidade. E uma sociedade será tanto mais sólida e perfeita quanto maior o
número dos espíritos que a servem com puro desinteresse.
in
“Seara Nova” - 1921
Imagem: Busto a Jaime Cortesão – Ançã - Portugal
Publicação nº 1252
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