O
JULGAMENTO DE GUERRA JUNQUEIRO
O nosso primeiro poeta teve
de comparecer, pela primeira vez na sua vida, perante o tribunal de S. João
Novo, acusado do crime de abuso da liberdade de imprensa.
Na “Voz Pública” de 2
de Dezembro, e após actos lamentáveis de desordem pública nas quais perdeu a vida um
pobre operário, publicou Guerra Junqueiro um entête, que a autoridade julgou ofensiva da majestade real.
Tendo a querela corrido
seus trâmites, o julgamento realizou-se no dia 10 de Abril, em júri misto
constituído por três juízes.
Foi defensor o snr. dr. Afonso
Costa, deputado da nação, que produziu um magnífico discurso em defesa do seu
constituinte.
Por seu turno, Guerra Junqueiro convidado a acrescentar que em sua
defesa julgasse útil, leu um documento de alto relevo literário, mas violentíssimo
quanto à essência, que os jornais diários publicaram, e foi o assunto obrigado de
todas as conversas.
O genial escritor foi condenado
em cinquenta dias de multa a mil réis por dia, custas e selos do processo.
À saída do tribunal, a grande
multidão que assistira ao julgamento, acolheu-o com uma formidável ovação.
in “Argus” – Maio 1907
GUERRA JUNQUEIRO (Freixo de Espada à Cinta, Portugal, 1850
– Lisboa, 1923), político, jornalista, escritor e poeta.
Publicação nº 1234
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