Mostrai-me
esse homem de sempre tão suave
Que
dizia que os dedos fazem subir a terraO arco-íris que se enlaça a serpente que se enrola
O espelho carnal onde a criança é uma pérola
E estas mãos tranquilas que seguem o seu caminho
Nuas obedientes reduzindo o espaço
Carregadas de desejos e de imagens
Uma seguindo a outra como agulhas do mesmo relógio
Mostrai-me o céu carregado de nuvens
Repetindo o mundo oculto em minhas pálpebras
Mostrai-me o céu numa única estrela
Eu vejo bem a terra sem ficar deslumbrado
As pedras obscuras as ervas fantasmas
Estes grandes copos de água estes grandes blocos de âmbar das paisagens
Os jogos do ferro e da cinza
As geografias solenes dos limites humanos
Mostrai-me
também o corpete negro
Os
cabelos puxados os olhos perdidosDestas raparigas negras e puras que estão aqui de passagem mas que me agradam tanto
Que são orgulhosas portas nos muros deste verão
Estranhas jarras sem líquido replectas de virtudes
Inutilmente feitas para relações simples
Mostrai-me estes segredos que unem as suas têmporas
A estes palácios ausentes que fazem subir a terra
PAUL ÉLUARD – poeta
(Saint-Denis, França, 1895 -Charenton-le-Pont, 1952).
PABLO
PICASSO – pintor, escultor, poeta e
dramaturgo (Málaga, Espanha, 1881 – Mougins, França, 1973).
Imagem: fotografia de Man Ray
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