MARIA DA SAUDADE CORTESÃO
(Porto,
Portugal,1913 - Lisboa, 2010)
Poetisa
e tradutora
Filha de Jaime Cortesão,
viveu grande parte da vida no estrangeiro acompanhando seu pai no exílio,
primeiro em Paris (1927), depois em Madrid e, por fim, no Rio de Janeiro, onde
conheceu o poeta Murilo Mendes com quem veio a casar-se em 1947.
Entre 1952 e
1956 viajou pela Europa acompanhando o marido em missões culturais de difusão
da literatura brasileira. Em 1957 fixaram-se em Roma, onde, durante 18 anos, a
sua casa se tornou lugar de referência para escritores e artistas plásticos.
Foi amiga de Albert Camus, René Char, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral
de Melo Neto, Luciana Stegagno Picchio, Sophia de Mello Breyner e Maria Helena
Vieira da Silva, entre outros.
O seu livro de estreia Dançado Destino, foi Prémio Fábio Prado de Poesia.
Traduziu Murder
in the Cathedral , de T. S. Eliot, A
Midsummer Night's Dream, de Shakespeare, e Calígula, de Albert Camus.
Publicou também traduções
do italiano e poemas em revistas e antologias no Brasil e na Itália.
in “Direção Geral do Livro, dos Arquivos e Bibliotecas” - Centro de Documentação de Autores Portugueses
***
A MULHER DE LOTH
Roucos
brados em Sodoma
Que
por trás de mim ardia,
Nas
ruas enxofre e cinza
Que
a fímbria do meu vestido
Roxa,
arrastava fugindo.
Minhas
filhas em cabelo
Fugiam
espavoridas,
Ávidas
e paralelas
No
horizonte cindidas.
O
rasto de seus pés durou
Até
à noite na areia
Deserta
no meio-dia.
Altíssimos
sons de cobre
A
nuca me contundiam -
Que
olhar como um grito agudo
No
instante em que me voltei!
Secura
de insecto e cal
Já
os membros me invadia.
Oh
Sodoma, outrora eterna!
Expulsa
da própria morte,
Estátua
de sede e sal
Olho
as ruínas e a lua.
O
chacal do grito escava
A minha garganta muda.
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