ANTERO
DE QUENTAL
(Ponta
Delgada, Açores, Portugal, 1842 -1891)
Escritor
e poeta
ESPIRITUALISMO
I
Como
um vento de morte e de ruína,
A Dúvida soprou sobre o Universo.
Fez-se noite de súbito, imerso
O mundo em densa e algida neblina.
A Dúvida soprou sobre o Universo.
Fez-se noite de súbito, imerso
O mundo em densa e algida neblina.
Nem astro já reluz, nem ave trina,
Nem flor sorri no seu aéreo berço.
Um veneno subtil, vago, disperso,
Empeçonhou a criação divina.
E,
no meio da noite monstruosa,
Do silêncio glacial, que paira e estende
O seu sudário, d'onde a morte pende,
Do silêncio glacial, que paira e estende
O seu sudário, d'onde a morte pende,
Só
uma flor humilde, misteriosa,
Como um vago protesto da existência,
Desabroxa no fundo da Consciência.
Como um vago protesto da existência,
Desabroxa no fundo da Consciência.
II
Dorme
entre os gelos, flor imaculada!
Luta, pedindo um ultimo clarão
Aos sóis que ruem pela imensidão,
Arrastando uma auréola apagada...
Luta, pedindo um ultimo clarão
Aos sóis que ruem pela imensidão,
Arrastando uma auréola apagada...
Em
vão! Do abismo a boca escancarada
Chama por ti na gélida amplidão...
Sobe do poço eterno, em turbilhão,
A treva primitiva conglobada...
Chama por ti na gélida amplidão...
Sobe do poço eterno, em turbilhão,
A treva primitiva conglobada...
Tu
morrerás também. Um ai supremo,
Na noite universal que envolve o mundo,
Ha-de ecoar, e teu perfume extremo
Na noite universal que envolve o mundo,
Ha-de ecoar, e teu perfume extremo
No
vácuo eterno se esvairá disperso,
Como o alento final d'um moribundo,
Como o último suspiro do Universo.
Como o alento final d'um moribundo,
Como o último suspiro do Universo.
in "Sonetos"
Uma beleza de soneto. Parabéns pela partilha!..obrigado de minha parte
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