HENRI MICHAUX
(Bélgica,1899
– França,1984)
Poeta,
escritor e pintor
Autor de poemas que são a narrativa
de suas viagens imaginárias, de seus sonhos ou alucinações: Viagem à grande Garabândia; Pena; Aqui, Poddema.
Seus desenhos e suas pinturas
ligam-se às mesmas pesquisas.
in, “Dicionário Larrousse”
***
Palavras
de Henri Michaux
“A aprendizagem da aranha não é
para a mosca.”
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QUE REPOUSE EM REVOLTA
No
escuro, no escuro será sua memória
no
que sofre, no que cheira mal
no
que procura e não encontra
no
barco que se racha no areal
na
partida sibilante da bala perfurante
na ilha de enxofre será sua memória.
No
que tem em si a sua febre e a quem não importam as paredes
no
que se lança e só tem cabeça para bater nas paredes
no
ladrão não arrependido
no
fraco para sempre recalcitrante
no pórtico desventrado será sua memória.
Na
estrada que obceca
no
coração que procura a sua praia
no
amante a quem o corpo foge
no viajante que o espaço rói.
No
túnel
no
tormento girando sobre si próprio
no que ousa roçar por cemitérios.
Na
órbita inflamada dos astros que se chocam
no
barco fantasma, na noiva desonrada
na canção crepuscular será sua memória.
Na
presença do mar
na
distância do juiz
na
cegueira
na taça de veneno.
No
capitão dos sete mares
na
alma do que lava a adaga
no
órgão do canavial que chora por todo um povo
no dia do escarro sobre a oferenda.
No
fruto de inverno
no
pulmão das batalhas incessantes
no louco na chalupa.
Nos
braços torcidos dos desejos para sempre insaciados
será sua memória.
(Da colecção Poètes d'aujourd' hui)
Tradução de António Ramos Rosa
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